Roger Lopes 07/10/2024
Torre de Baboseiras
Roteiro ruim, arte pior. Os anos 90 foram um período bastante prolífico na produção de quadrinhos medíocres. Pelo menos no que tange a gibis de super-heróis, descontando algumas publicações pelos selos Vertigo, Epic e similares. Não posso embasar nada em relação às décadas subsequentes, pois há muito abandonei esse segmento, ao qual retorno somente por alguma curiosidade pontual, como é o caso dessa tranqueira superestimada chamada "Torre de Babel".
Não à toa, creio que foi naquela década perdida que ocorreu a debandada de grandes nomes da indústria, como Alan Moore, Frank Miller, John Byrne e outros, para investir em trabalhos autorais de melhor qualidade, dando lugar a arremedos de artistas como Jim Lee, Rob Liefeld, Marc Silvestri, J. Michael Stragazinsky, Dan Jurgens e Geoff Johns. Têm piores, mas se começar uma lista, não acabo nunca.
Curiosamente, uma das poucas exceções é a excelente graphic novel "O Reino do Amanhã", magistralmente ilustrada por Alex Ross e escrita por Mark Waid, que por alguma ironia muito desgraçada do destino, é quem nos brinda com essa porcaria citada no começo.
Rola, inclusive, há algum tempo, o boato de que o roteiro original de "O Reino do Amanhã" teria sido malandramente surrupiado pela DC Comics de um excêntrico escriba inglês fissurado em magia e sem dinheiro para comprar aparelhos de barbear, mas isso é assunto para outro episódio.
Não me parece sensato exigir explicações científicas, físicas e quânticas em gibis de super-heróis. É irrelevante saber como o cara voa, solta laser dos olhos, teleporta ou viaja no tempo. Para isso existem os ensaios de Newton, Galilei, Einstein, Stephen Hawkins e por aí vai. Todavia, em que pese ser ficção, é necessário um mínimo de coerência contextual. Algo que "Torre de Babel" ignora completamente.
Mesmo sem entrar no mérito da verossimilhança e dos sofismas ridículos jogados aleatoriamente para dar impressão de sofisticação, a infinidade de conveniências no desenvolvimento da trama é de sangrar os olhos. A tosquice das armadilhas do vilão para capturar os heróis são dignas dos planos infalíveis do Cebolinha. Nada contra a Turma da Mônica, mas convenhamos que o público alvo aqui espera resoluções menos estapafúrdias que o Ra's Al Ghul querendo ser o dono da "Lua".
Cumpre destacar que a única coisa elogiável nessa HQ é a premissa. E nem isso é original. Quinze anos antes, Mark Gruenwald, em seu ótimo "Esquadrão Supremo", a versão Marvel da LJA, já havia abordado, de forma bem mais criativa, essa situação onde o personagem soturno da equipe, premeditando um futuro pouco promissor nas mãos de figuras tão poderosas, mapeava os pontos fracos de seus coleguinhas, que começavam a enveredar para despotismos nada heróicos.
"E enquanto isso, na Sala de Justiça", as coincidências não param. Muitos conceitos presentes na citada "Reino do Amanhã", em "Torre de Babel" e também naquela baboseira chamada "Injustiça: Deuses Entre Nós", saltam aos olhos na obra do Gruenwald.
Tem cara de plágio, cheiro de plágio, gosto de plágio, textura de plágio... mas os autores dessas histórias afirmam que sequer conheciam "Esquadrão Supremo", quando as conceberam. Então, não sendo o Batman, quem sou eu para duvidar?