Letícia 03/07/2021
Seguindo recomendações da @livrosdapaloma, esse livro furou fila na minha lista de leituras. Sobre o Exílio apresenta três discursos do poeta e ensaísta russo Joseph Brodsky escritos entre 1987, quando o autor recebeu o Nobel de Literatura, e 1988.
“Sobre o Exílio”, que dá título ao livro, aborda o desenraizamento e a inadequação que acometem aqueles obrigados a deixar sua terra natal. Brodsky trata o exílio como uma condição metafísica, marcada pela melancolia, que condena o exilado a manter os olhos no passado, refém da retrospecção acionada pelo recorrente estranhamento ao novo habitat. Frente à barreira do idioma e às sensações de orfandade e não pertencimento, o exilado busca refúgio no familiar, o que explica a retração ao passado, para não ter que “lidar com as realidades do presente e as incertezas do futuro”.
Embora Brodsky escreva sobre migrações internacionais, ou seja, entre países, muito do que ele fala também se aplica ao microcosmo das migrações internas, de uma cidade ou de um estado para outro. No fundo, o texto reverbera em todos que, buscando melhores condições de vida, precisam se reinventar em um novo espaço, distante das suas raízes familiares, linguísticas e culturais.
Já “Uma Face Incomum” fala sobre nossa relação com a arte, em geral, e a literatura, em particular. Para o autor, a literatura é a mais democrática das artes, já que possibilita um papel ativo a todos: um livro é uma conversa íntima entre escritor e leitor, não um monólogo. Por outro lado, a experiência de leitura fala com cada um de uma forma única, singularizando nossa existência e nos diferenciando da multidão.
Brodsky defende que a arte não é o subproduto da evolução humana, mas antes o objetivo da espécie, sendo mais duradoura e transformadora do que qualquer forma de organização social. A arte e a literatura não devem, portanto, ser restritas às elites de uma nação, sob a pena de ela pagar por isso com a própria história.
Ao mesmo tempo em que traz reflexões extremamente importantes, Brodsky possui o dom de pôr em palavras sentimentos difíceis de expressar. É uma leitura necessária e acolhedora.
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