Luiz Pereira Júnior 17/05/2023
Uma cicatriz no rosto
Como não poderia deixar de ser, um aviso ao leitor: “Sobre o exílio”, de Joseph Brodsky, é mais uma obra da coleção Antagonista da editora Âyiné, cujas edições são em formato bolso, com belas capas, ótimo conteúdo e preços altos, altíssimos ou estratosféricos.
Dito isso, “Sobre o exílio” é formado por dois discursos: o discurso pela aceitação do Prêmio Nobel de Literatura e o discurso de aceitação do referido prêmio.
É preciso dizer que o livro não tem o mesmo fulgor de “Judeus errantes”, de Joseph Roth, talvez por se tratar de discursos, um gênero comumente mais árido, que, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, acaba se tornando (ou passando a impressão de) superficial, feito sob encomenda (o que, no final das contas, acaba sendo isso mesmo).
No entanto, além dos temas óbvios (o exílio e o Prêmio Nobel), o que me cativou foi o amor de Joseph Brodsky pela literatura e, até mesmo, talvez de uma forma um tanto ingênua, a ousadia de afirmar que a Literatura é a redentora da Humanidade.
Pensando melhor, retiro o que escrevi há pouco. E não se trata de recurso estilístico: estou apenas sem vontade de apagar o que escrevi.
Sim, reli alguns trechos de “Sobre o exílio” e percebi o brilho de Brodksy ao relacionar a literatura e o exílio, o escritor exilado e sua condição marginal (mesmo quando se trata de ganhar o Nobel, o autor sempre será considerado um autor judeu, um autor exilado ou um judeu exilado que escreve). Em outras palavras, ser judeu e ser exilado parece a muitos uma marca mais visível do que uma cicatriz estampada no rosto. E é exatamente isso o que Joseph Brodsky nos obriga a ver...