Daniel 04/10/2016Depois da meia noite“A fragilidade do homem era tocante. Milhões de anos de evolução desembocando em seres incrivelmente não adaptados ao ambiente do planeta, como demonstrava nosso sofrimento diante de mínimas alterações de temperatura (...), para não falar na ainda mais humilhante vulnerabilidade da nossa mente a qualquer baboseira, à ansiedade, à esperança.”
O que eu adoro na literatura é isso: que além de uma história, de preferência interessante e bem contada, tenha também reflexões, pensamentos que parecem ter escapado de nossas próprias mentes, tal a identificação que temos com eles. O enredo de três amigos que se reencontram após a morte de um amigo em comum parece simplesmente um pano de fundo para questionamentos que, querendo ou não, se impõe com o passar dos anos: para onde foram nossos planos? O que nos tornamos? A vida que temos hoje, que construímos para nós mesmos, é muito diferente daquela que sonhamos quando éramos jovens? E o mundo em que vivemos, vai acabar com o homem ou o homem é que vai acabar com o mundo?
Acho que Daniel Galera acertou demais nos três narradores maduros – uma mulher (Aurora), um gay (Emiliano), um homem (Antero, talvez o menos consistente ou carismático dos três) – com suas inseguranças, suas dúvidas e suas poucas certezas. Numa época de tanta informação e tanta opinião, é inevitável uma certa nostalgia com tempos analógicos, quando o futuro parecia mais promissor.
Achei que o livro poderia até render mais alguns capítulos... Com mais perguntas que respostas, talvez este livro frustre um pouco os leitores muito jovens e idealistas. Que esperem a maturidade chegar, para relê-lo com outros olhos, mais cansados, mais experientes e, quem sabe, esperançosos.