Linha do Destino

Linha do Destino Camila Silvestre




Resenhas - Linha do Destino


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eu.rodrigomesquita 24/01/2017

Não leia esse livro no ônibus.
Não é curioso que “destino” possa significar tanto o caminho quanto o lugar onde se chega, ou seja, o fim?

É engraçado pensar isso, porque atribuímos tantas coisas ao destino, mas talvez o destino seja sempre o mesmo: uma aquarela que descolorirá, segundo Toquinho e Vinícius; uma roda a carregar tudo, diria Chico Buarque.

Segundo Camila Silvestre, o nosso caminho é o resultado da desavença entre nossas escolhas e o fim derradeiro. Uma desavença secular, dessas que começam numa tarde tranquila e nunca mais terminam. Eu lembro bem de ter visto isso nos versos de Shakespeare:

“Mas, para terminar pelo começo, entre a vontade e a sorte há sempre empeço. Nossos planos são frutos só do acaso; a ideia é nossa; os fins, de cada caso”

É preciso ter maturidade para entender que o mundo tem seus próprios pontos finais a abreviarem a nossa história, mas isso não impede que a Camila escreva “Linhas do Destino” com a suavidade de uma criança.

Aliás, é o ponto no qual eu mais a admiro nessa obra. Os temas são adultos, maduros, reconhecíveis para qualquer um com um mínimo de sensibilidade e que já provou algum dissabor na vida. Ainda assim, tudo o que você lê tem leveza na narrativa, de forma a não proporcionar choque, dor ou desconforto por ler a história de vingança da Morte sobre os abusos do Destino.

Pois é, Morte e Destino são os personagens-chave dessa história. Quem conhece os quadrinhos dos irmãos Perpétuos, de autoria do Neil Gaiman, pode achar que há semelhança. Não poderiam estar mais enganados. Aqui, tanto o Destino quanto a Morte são entidades com funções, que podem estar ou não cumprindo o papel de suas naturezas, diferentemente da Morte e Destino em Sandman, onde personificavam a natureza dos eventos.

As entidades de Linhas do Destino, ao narrarem seu trabalho (a narração fica por conta de Destino), servem de pano de fundo para a história de mulheres. Nenhuma super heroína, nenhuma envolvida em complexos triângulos amorosos. São mulheres simples, complexas como toda mulher simples é.

As mulheres de Camila Silvestre, com suas vidas devassadas pelo Destino, nos deixam claro como em cada passo, em cada escolha, a cada vez que nos calamos, construímos a próxima página de nossa vida, sem saber que a contracapa pode estar logo ali...

São histórias cuja riqueza está na identificação. Recomendo a leitura não (só) com atenção, mas com ternura. Recomendo também por isso (e por outras razões) que não leia esse livro no ônibus.

Foi Camila Silvestre quem escreveu e me deu esse livro, e sou muito grato por isso. Camila é pós-graduada em Letras, professora de português para estrangeiros, moderadora do grupo Escritores Ajudando Outros Escritores (sendo a quem todos recorrem para as questões gramaticais mais improváveis) e bebe sangue de unicórnio para não envelhecer (o efeito colateral é que ela ama glitter rosa).

PS: dei apenas uma estrela por pura implicância. Na verdade, eu gostei.
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