"O ano era 1920. A Morte estava cansada. A gripe espanhola deixara-a sobrecarregada, exausta, mesmo. Era para ter sido apenas um pequeno surto de gripe suína, em 1918, um plano muito bem arquitetado em uma de nossas muitas reuniões, mas o vírus se alastrou pelos dois anos seguintes, dizimando mais de quarenta milhões de indivíduos pelo mundo. Tudo porque eu não acompanhei bem de perto o trajeto que a epidemia estava seguindo. A ideia toda era audaciosa desde o início, agora eu vejo, e acabara saindo um pouco do controle ao final. A falha fora minha, eu devo admitir, como em todas as outras vezes. Como no caso da peste negra, alguns séculos atrás, por exemplo. Ou como no episódio da erupção do Vesúvio, tanto tempo antes. Vocês entenderam. Não era à toa que a Morte me encarava agora com o semblante fechado, enquanto me estendia o braço para um cumprimento apático, sua mão pequena e gelada sumindo entre meus dedos longos."
A Morte e o Destino só devem explicações um ao outro. Enquanto os dois andam juntos, tudo acontece como tem que acontecer. Mas quando o Destino descumpre os planos da Morte, os caminhos se confundem, as trilhas se bifurcam e os rumos se entrelaçam. É aí que linha de fiar o destino se embaraça, formando nós que cabem apenas ao leitor desatar.
Drama