Livia.Villela 26/06/2021Err..Depois de mais de quinhentas e cinquenta páginas, confesso que não sei bem como começar essa "resenha". Acho que posso começar falando que não gostei do livro, caso não seja óbvio por conta da nota que dei. Eu dei 2,5 quase que de raiva. Poderia muito bem dar um 3, penoso, mas dava; mas como pode alguém ter uma ideia tão magnífica e executa-la de forma tão incompleta e insatisfatória?
Como disse, não gostei do livro, mas entendo o que leva alguém a gostar. Para começar, a idéia é incrível. Incrível, mas muito difícil de se executar e mais difícil ainda de não se perder no meio dela. Há tantos deuses. Tantas tradições. Tantos mitos, histórias, tantas culturas. Trazer todos numa só história parece, no mínimo, difícil. Nem mesmo quinhentas páginas conseguiriam sustentar desenvolver todas essas tradições e culturas. Por conta disso, senti que ficou um pouco confuso e um pouco vazio. Como falar de uma mitologia, sem realmente falar dela? Colocá-la como protagonista?
Outro problema de falar de tantas mitologias ao mesmo tempo, é se perder nelas. Tanto eu, lendo, quanto Neil Gaiman, escrevendo, sinto que ambos nos perdemos eventualmente nessa narrativa. Talvez uma melhor ideia fosse estreitar essa narrativa. Selecionar um pequeno número de mitologias. Acho que, para o autor, pareceu algo coeso, já que ele entende de todas as tradições que procurou falar sobre, mas realmente parece caótico e sem sentido para quem conhece pouco. Toda hora um novo deus era inserido, e eu entendia tão pouco dele, como dos outros.
Outro ponto interessante é como o autor trata de todas as tradições, povos e culturas que estão envolvidas na formação dos Estados Unidos. Ninguém nunca se aprofunda na discussão dos EUA a partir da visão multicultural e isso eu posso apreciar nesse livro. Gosto das histórias desconexas, mas que tem sim conexão com a principal, que falavam sobre momentos do passado, quando certos deuses foram trazidos à América. Mas mesmo essas às vezes se tornavam um pouco confusas. Talvez dar nome aos bois ajudasse um tanto.
No início, como disse, eu até poderia dar um 3 para esse livro por causa de tudo isso que estou dizendo, mas então o livro se tornou totalmente massante, lento. Por momentos parecia mais um romance sobre vida cotidiana do que um livro de ficção sobre mitologia, regionalidade e tradição. Se tornou extremamente lento, arrastado.
Outra coisa que enfraqueceu tudo isso para mim foi esse protagonista sem personalidade, sem pontos fortes, sem presença. Eu me senti exatamente como Laura em relação a Shadow: sequer dá para sentir que ele estava vivo. Ele parecia não ter opinião própria, pensamentos próprios, aceitava tudo que era jogado em seu caminho, era estagnado, vazio, morto. Parece até um personagem escrito de maneira preguiçosa e conveniente, já que tudo poderia acontecer a ele e ele nem ligaria. Nem quando algo parece mudar no interior dele eu senti qualquer mudança. Para mim, continuava completamente morto.
Muitas cenas eu não consegui decodificar, muitas coisas pareceram ficar sem resposta e o final, para mim, foi abrupto e vazio demais. Personagens demais, alguns sem explicação de ser. Sequer houve um aprofundamento nos ditos novos deuses, eu me senti realmente desamparada.
Enfim, consigo ver como alguém possa gostar dessa obra. Consigo mesmo, mas não consigo sentir o mesmo. Posso apreciar alguns pontos, mas não consigo dizer que esses pontos superaram todos aqueles de que não gostei.
Enfim. Enfim. É uma opinião um pouco polêmica, porque é um livro bem amado. Mas enfim.
De qualquer forma, foi uma leitura interessante. Apesar de, depois da metade, sentir que estava só me forçando a continuar para entender o final.