spoiler visualizarthexanny 31/12/2023
Juntando os pedaços
Esse livro conta a história de dois personagens, com perspectivas completamente diferentes, tirando um detalhe: os dois são adolescentes e estudam na mesma escola. Libby é uma garota gorda, que sofre com a perda da mãe. Jack é um menino com prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas.
Ao longo do livro, os dois passam por um grande processo de aceitação, mas de modos diferentes. Eu tive a impressão de que a Libby já havia aceitado ser gorda e ser a ex menina mais gorda do mundo, mas ela ainda tinha dificuldades pra aceitar e ignorar os comentários a sua volta. E, também acredito que a sua maior mudança foi em relação à morte da sua mãe. Ao longo da narrativa, ela consegue se lembrar da sua mãe não só com sentimento de dor e perda, mas também recordando dos momentos bons e, na medida do possível, aceitando a sua morte.
Jack que tem prosopagnosia tem uma realidade diferente da de Libby, porque as pessoas não sabem da sua doença, então ele simplesmente não lida com ela. Durante boa parte do livro, vemos Jack fingindo que está tudo bem e que ele está feliz. Ele, diferente de Libby, ignora a sua realidade e finge ser alguém que não é.
É engraçado, porque se pode fazer um paralelo entre os dois personagens. Um se vê como realmente é, mas os outros não. Enquanto, o outro não se aceita, mas os outros o apoiam. A Libby sabe que não é apenas o seu peso que a define, mas os outros personagens insistem nesse fato, querendo mesmo que implicitamente, que ela mude. Já Jack, não aceita a sua doença, sempre se depreciando e achando que seus problemas não são importantes, mas a sua volta há muitas pessoas que se importam com ele, mesmo que superficialmente.
Juntos eles encontram um certo equilíbrio e um mútuo entendimento. Jack não passou pelas mesmas dificuldades que a Libby, ele nunca vai entender como é ser constantemente julgado por sua aparência e peso. Ao mesmo tempo, Libby não passou pelas mesmas dificuldades de Jack, ela nunca vai entender como é se sentir distante das pessoas, mesmo as conhecendo. Mas, o fato é que os dois passaram por coisas horríveis para terem empatia suficiente e se colocarem no lugar um do outro. E acho que isso é uma das coisas mais lindas sobre o livro.
"Quase digo E por salvar minha vida, porque por algum motivo agora estou pensando em mim mesma aos onze e aos treze anos. Aquela garota parece outra pessoa, de outra vida, e não tem nada a ver com quem sou agora. Mas sei que eu não seria eu mesma sem ela. Não seria a Libby Strout[...]"
Eu já tinha lido “lugares incríveis” da mesma autora pra saber que o livro teria: personagens com passados difíceis e romance. Eu gosto dessas duas coisas, mas eu não tinha certeza se gostava de como a autora desenvolvia isso. Não vou comparar esse livro com lugares incríveis porque apesar de eu ter lido, eu realmente não me lembro de nada do livro, mas sim do filme. Ainda sim, esse é um livro que qualquer adolescente no ensino médio pode se identificar, porque ele trata dos piores pesadelos que todos nós já sentimos: rejeição, fofocas, perda, ciúmes e vergonha.
Sobre o final do livro: ele era um final esperado, mas não foi um final que eu gostei. Eu acho que romantizou muito, algo que não precisava ter sido. Não há nada que confirme que alguém com prosopagnosia consiga identificar rostos, então eu realmente não sei da onde a escritora tirou isso. Nos agradecimentos ela diz que consultou muitos médicos para escrever sobre a doença de Jack, e eu concordo que ela fez um ótimo trabalho, mas de novo, eu achei o final uma romantização desnecessária e um pouco forçação de barra.