Marcos Nandi 22/06/2022
Muito bom.
Li por agora a biografia de D. Pedro I, escrita por Isabel Lustosa. Um livro muito bom que fala sobre a vida,reinado e morte de D. Pedro I, falando também sobre os eventos que acontecem em 1808.
Porém, nesse livro, Laurentino Gomes esmiúça de maneira ímpar todos os detalhes da fuga da família real de Portugal para sua colônia, Brasil.
Um livro-reportagem, fruto de dez anos de estudos e que tem como fito mostrar a história como ela foi (e é) de forma acessível para leigos em linguagem acadêmica.
A fuga se deu por causa de Napoleão, isso todo mundo sabe, mas o autor explica que exectuando a Inglaterra e Portugal, todo o continente europeu estava sob o domínio de Napoleão, que conseguiu seu poder devido a revolução francesa.
D. João, que estava como regente por causa da loucura que acometia sua mãe, estava sobre a cruz e caldeirinha. De um lado, pressão da França napoleônica, de outro, pressão da Inglaterra que era sua tradicional aliada, que em troca da fidelidade, financiaria a longa (e perigosa) viagem e protegeria a família real, em troca, o Brasil poderia receber os navios ingleses, coisa que antes não acontecia, podendo a colônia receber apenas navegações de Portugal.
O que eu não sabia, era que essa mudança da corte já tinha sido levantada em outros momentos.
Portugal, considerada a menor economia da Europa, tinha como principal fonte de economia a colônia latina-americana.
Devido a fragilidade econômica, falta de desenvolvimento na ciência, e forte fanatismo religioso, Portugal era sempre ameaçado por países fronteiriços, sendo até governado por um tempo pela Espanha.Assim sendo, um país pequeno, rural e atrasado, e que usava de uma economia extrativista.
Com a fuga da corte para o Brasil, os portugueses se sentiram traídos e abandonados a própria sorte, com milhares de mortes e fugas por causa das guerras peninsulares.
Para conseguir fugir, D. João, fez um engodo dizendo que ia se entregar a Napoleão e chegou a declarar uma falsa guerra com a Inglaterra para conseguir fugir de Portugal. No princípio, só D. João iria fugir, mas depois, foi decidido que toda a corte iria junto (era MUITA gente).
Uma coisa interessante que eu não sabia, era sobre o desalojamento de casas para a corte morar e consequentemente (isso é óbvio) o aumento do preço dos produtos e aluguéis. Além disso, não sabia também, que existia uma "justiça" específica para julgamento dos ingleses que moravam no Brasil, entre outros privilégios que não eram recíprocos para os portugueses que moravam na Inglaterra.
D. João foi descrito como já conhecemos, medroso,depressivo, feio, esquisito, sujo, metódico ao ponto de nunca sair da rotina, o que incluía o uso das mesmas roupas, mesmo elas rasgadas. Considerado um monarca bom com o povo, era desprezado por sua covardia e fraqueza.
Já sua esposa, Carlota Joaquina, era manca, considerada feia, e autora de cinco conspirações contra o marido que não deu certo. Sabemos que os dois moravam em lugares separados, e também, que Carlota se casou por procuração ainda criança e desde sempre, foi geniosa.
Era uma corte corrupta e que tentava disfarçar a escravidão, o momento mais horrível da nossa história. Onde os escravos não podiam mais ser espancados em lugares públicos, mas sim, em lugares próprios e pela polícia.
Apesar disso, a corte tentou melhor o Rio de Janeiro, abrindo estradas, portos, universidades, e incentivando as artes trazendo artistas franceses para o Brasil.
O livro menciona a revolta em Pernambuco e a consequência dela, como o desmembramento de Alagoas do seu território. E também, como Portugal ficou a ver navios sem a corte, e sobre o domínio rígido dos ingleses, obrigando D. João a voltar para Portugal.
O livro tem mapas e muitas imagens (históricas, obras de artes, etc) e muita notas de rodapés que demonstram a extensa pesquisa do autor. Quero ler mais coisas do autor.
Por fim, achei interessantíssimo a análise em como o Brasil seria, caso não houvesse, a fuga da família real portuguesa para o Brasil.