Taverneiro 17/06/2017Texto muito bem construído. Um 007 Steampunk e bem humorado. ^^ O personagem principal é um super espião servindo ao império francês em um mundo steampunk! Aventura, bom humor e um mundo fascinante dão o tom dessas histórias!
Le Chevalier (que significa O Cavaleiro em francês) na verdade não é o nome real do personagem, e sim um posto no Bureau, uma agencia de investigação a serviço da França. Quem é escolhido para ser um Chevalier tem o seu nome e seu passado apagados dos registros para melhor servir aos interesses do império como espião ou agente de campo. Se fosse para definir, eu diria que o Le Chevalier é uma versão mais divertida do 007, só que francês e em um mundo steampunk. XD
O mundo criado pelo autor é tão legal! Ele é recheado de tecnologia steampunk de diversos tipos como dirigíveis, armas estilizadas, pequenos robôs com mecanismos de um relógio… E tudo isso em um mundo historicamente o mais parecido possível com o nosso! O autor faz uso do estilo “ficção cientifica” de criação para fazer essa tecnologia parecer possível. Alguns exemplos são os Drozde, pequenos construtos movidos a corda que simulam animais de estimação e que o Cordenonzi conseguiu fazer com que eles parecessem reais, quase palpáveis, com um pouco de bom uso de pesquisa histórica. Até mesmo o nome dos pequenos autômatos nasceu disso, inspirados pelo relojoeiro Pierre Jaquet-Droz que existiu no mundo real e aqui foi o responsável pela criação desses robôs.
“Construídos em latão ou zinco, ainda havia alguns de segunda mão, mas esses eram raros. Depois que o cristal de quartzo vibrava pela força das molas pela primeira vez, as minúsculas engrenagens reorientavam-se automaticamente, garantindo um comportamento individual e único para cada autômato. Para os poetas, esta era a centelha de vida mecânica: sua personalidade era definida e o drozde afeiçoava-se ao amo, permanecendo eternamente ligado a ele. ”
Essa mesma pesquisa histórica rendeu um mundo steampunk que beira a ficção científica hard XD. A quantidade de referências àquela época gerou easter eggs aos montes, além de uma quantidade muito grande de conhecimento histórico que é “puxado” pela curiosidade do leitor enquanto ele passeia por essa França alternativa.
Eu imagino que a intenção do autor aqui era criar uma “história alternativa” pensando em como essa tecnologia retro futurista afetaria o mundo real. Alguns exemplos são o império de Napoleão e o atentado mal sucedido a Abraham Lincoln no Teatro Ford. É um mundo extremamente bem trabalhado em todos os detalhes, e isso é muito impressionante. Tanto na HQ quanto no livro são histórias aparentemente simples, mas que, com uma leitura mais atenta, revelam textos metodicamente bem trabalhados! É algo que me deixou sinceramente de queixo caído.
E o texto de A. Z. Cordenonzi é muito bem-humorado! Ele escreve de maneira bem fluida e leve, fazendo tanto a leitura da HQ quanto do livro extremamente agradáveis. ^^
A Dupla Dinâmica Le Chevalier e Persa! XD
Essa história é cheia de personagens um pouco caricatos e muito carismáticos. A dupla principal é formada pelo Próprio Le Chevalier e por Persa, seu fiel ajudante. Além, é claro, de muitos coadjuvantes.
Todos que aparecem na história acabam caindo em algum arquétipo conhecido à primeira vista: o espião habilidoso, o parceiro bonachão, a linda e perigosa espiã, o vilão maquiavélico e seu capanga estiloso… Essa familiaridade que vem junto do arquétipo acabou caindo bem com o tamanho reduzido da história. O autor pode combinar sua própria construção de personagens tendo esse ponto inicial, criando personagens divertidos e interessantes.
O meu maior problema com personagens aqui foi o próprio protagonista. Parece que em meio a personalidades tão fortes do “elenco de apoio” o Chevalier fica um pouco acuado. Ele é uma pessoa mais séria e muito mais focada, isso o deixa meio sem intensidade na história. Parece que o fato de ele ter abandonado o antigo nome para ser apenas Le Chevalier foi literal, e ele deixou de ser humano. Ele não é um personagem ruim, mais eu senti muita falta de algum detalhe do passado dele, ou algo para me apegar de alguma outra forma. A sensação que eu tive foi de alguém com um potencial muito grande desperdiçado. Ainda assim os bons coadjuvantes conseguem conduzir a história de maneira excelente.
Essa HQ tem duas histórias. Em A Besta de Notre-Dame, o Cavaleiro é chamado para investigar uma série de brutais assassinatos cometidos por um misterioso homem conhecido como O Retalhador. E na segunda história, Contra o Dínamo Rubro, um famoso cientista é sequestrado e a investigação leva até uma grande conspiração contra a França.
As duas aventuras aqui são bem “aceleradas”, digamos assim. A sensação que eu tive é como a de quadrinhos que geralmente vem em uma revista ou jornal, onde você tem poucos quadros e a história tem que dar bons saltos entre eles para não perder tempo. Eu senti essa mesma agilidade aqui e é quase de perder o fôlego.
A arte estilizada e divertida de Fred Rubim dá esse ritmo acelerado e casa muito bem com o tom divertido e aventuresco das histórias do Cavaleiro.
A Besta de Notre-Dame é uma boa história, um caso interessante a ser resolvido pelo Le Chevalier, mas não tem muito que destacar.
Em compensação Contra o Dínamo Rubro é uma baita história oferecendo tudo o que o Chevalier tem de melhor. Com todo o ar 007 que seria possível, incluindo uma “liga” de vilões, um capanga irado e uma trama envolvendo figuras históricas. Essa histórica carrega bem toda essência do que é Le Chevalier.
As duas são histórias divertidíssimas de aventura e ação, que pessoas de todas as idades vão curtir.
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https://tavernablog.com/2017/06/15/le-chevalier-de-a-z-cordenonsi-resenha/