Lauraa Machado 19/08/2017
Que final incrível!
É difícil tentar avaliar esse livro. Na verdade, já foi bem difícil avaliar o primeiro. Por um lado, existem momentos bem interessantes da protagonista e do relacionamento dela com seu amigo de infância e outros personagens. Também tem cenas incríveis, que eu nunca poderia prever, com atitudes super empoderadas dela. A criação do mundo é impecável mesmo, todos os detalhes pensados e inspirados em uma cultura que ajuda a dar credibilidade à história. Ou seja, por um lado, essa trilogia é cheia de detalhes interessantes e bem feitos.
Mas, por outro, ela é terrivelmente batida. Desde o começo, eu tive uma sensação de que já tinha visto aquilo antes - várias vezes. Na verdade, a maior lembrança que tive veio da série Corte de Rosas e Espinhos, da qual, aliás, eu não gosto. Era uma sensação tão forte de estar lendo quase a mesma série, que eu precisava me forçar a lembrar que eu NÃO estava lendo a história da Sarah J Maas, mas uma trilogia da Leigh Bardugo. O pior era que, quando eu ficava com essa sensação, começava a deixar de gostar do que estava lendo e querer largar (o que é totalmente irracional, porque esse livro aqui foi muito melhor desenvolvido e escrito do que o segundo da outra trilogia - na minha opinião, - e eu gosto muito mais desse).
Às vezes, esse livro me lembrou também de Jovens de Elite, com toda a história da Alina tentando entender e aceitar a parte 'ruim' de seu poder. E, apesar de ter gostado de todo o desenvolvimento desse livro, a trilogia Jovens de Elite é bem melhor e mais original do que essa.
Eu ainda gosto bastante da Alina e do Mal, mas senti quase constantemente nesse livro que a personalidade deles tinha desaparecido. Eles ficaram bem genéricos na maioria das cenas. Sabe aquela sensação de que você não conhece um personagem, mas, como ele secundário, consegue adivinhar o jeito clichê e batido com o qual ele vai agir? Foi assim. As brigas deles pareciam de novelas, de dramas exagerados. E isso infelizmente me incomodou bastante.
Sabe o que faltou? Companheirismo. E isso falta em praticamente todos os casais literários por aí (menos no da trilogia Legend, que casal incrível!). Eu até entendo na maioria dos livros, já que quase sempre o casal se conhece há pouco tempo. Mas Alina e Mal se conhecem desde que eram crianças! Eles foram melhores amigos antes de terem qualquer interesse romântico um pelo outro. Eles não só eram melhores amigos, como era literalmente a única família um do outro (ambos órfãos). Essa atitude de estranhos inseguros deles, de mentir e esconder as coisas, não conseguiu me convencer. Além de ter sido forçada, foi desnecessária. A autora parece ter colocado só porque faz parte da receita de como escrever uma trilogia fantástica YA.
Tem outro personagem que eu preciso mencionar aqui: Nikolai. Estou levemente apaixonada por ele, vou admitir! Mas, infelizmente, muitas vezes também senti que ele foi criado como parte de uma receita, sabe? Quantos personagens diretos, sarcásticos, convencidos e engraçadinhos não existem por aí? Algumas vezes, ele me pareceu bem caricato. Era na hora de ele ficar sério que deu para eu perceber a força que ele tem como personagem. E admito que comemorava todas as vezes que ele aparecia, mesmo nas cenas em que só serviu para criar discórdia estilo novela.
E sabe o que mais me dá raiva? O quanto esse livro é bom! O quanto a autora é boa! Dá para ver todo o potencial e a genialidade dela nas outras partes, nas cenas em que ela não se segura para seguir o modelo já aceito, quando ela realmente surpreende! Meu deus, eu preciso que essa autora sente para conversar com a Marie Lu (autora das trilogias Legend e Jovens de Elite), porque a Marie Lu sabe como fugir do clichê e do batido nas pequenas coisas. E, se a Leigh Bardugo tivesse feito isso nessa trilogia até agora, esses livros seriam históricos, de tão épicos.
A maior prova do quanto ela consegue ser realmente incrível e genial é o último capítulo. Infelizmente, ele vem depois de vários praticamente inúteis que me deixaram um pouco entendiada e bem incomodada. Como alguém que sabe fazer um final desses passa quase um livro inteiro sem aproveitar desse potencial? Sofrido viu!
Mas agora vou correr para o terceiro livro, tentar diminuir minha expectativa (porque ouvi dizer que muita gente não gostou) e torcer para ser surpreendida.
Só um último detalhe: esse livro tem um pequeno, minúsculo triângulo amoroso, mas definitivamente não envolve o Darkling. Não é possível que vai envolver ele no próximo. Isso seria doente!