Lethycia Dias 13/09/2019ConfusoFazia muito tempo que eu tinha vontade de ler Iracema, apesar de não gostar muito de José de Alencar como escritor. Eu gosto de livros clássicos, e especialmente dos brasileiros, e sei que esse livro foi importante, por isso quis ler.
É uma história de amor trágico entre um homem português e uma mulher indígena do povo tabajara, que teriam originado o "primeiro brasileiro" e inciado a colonização do território que hoje é o estado do Ceará. Tudo é ficção, mas há um argumento histórico envolvendo personagens que teriam existido de verdade e estado naquela região.
Comecei a ler com muita curiosidade, nas logo desanimei, e a primeira barreira que encontrei foi da linguagem. Não gosto muito de certas coisas que José de Alencar fazia na escrita, nas descrições físicas e no uso de adjetivos. Aqui, percebi logo uma peculiaridade em relação aos outros livros dele na construção das frases. Foram escritas com tantos floreios que se torna difícil decifrar o que significam, e assim, todo o texto é complicado. A edição inclui um glossário de palavras indígenas e algumas notas de rodapé, mas isso não ajuda muito. O problema é como o texto foi pensado.
Também me incomodou, depois de algum tempo, a falta de pronomes pessoais nos diálogos. Iracema não diz "eu" quando fala de si mesma, mas repete seu próprio nome, e não diz "tu" para o interlocutor, mas sim o nome ou apelido, como "guerreiro branco" quando se dirige a Martim. Assim também fazem os outros personagens, o que deixa os diálogos extremamente confusos.
Em uma carta de Alencar a um amigo incluída nessa edição como prefácio, o autor explica essas e outras peculiaridades como necessárias para transmitir a "ignorância" dos indígenas, a "singeleza primitiva da língua bárbara", o que me deixou irritada não só com o racismo, mas também com o ar de superioridade. Nem sei por que me surpreendi com isso, mas odiei saber.
Entendi a essência da história, embora tenha me sentido perdida em várias passagens. Não sei bem o que esperava, mas encontrei um texto confuso, escrito com conhecimento, isso não posso negar - porém escrito também com arrogância. Não foi uma leitura nem um pouco boa e não retendo repeti-la.
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