Bruna.Ceccato 29/01/2024
Edição única
Bom, o que falar sobre essa obra que já não foi comentado ou estudado repetidas vezes, não é mesmo?
Começando por essa edição única, o que posso escrever é que este livro é muito bem produzido. O fato dele ser enorme me fez imaginar que estava lendo um livro daqueles antigos, que vemos em filmes. E de certa forma é sim um livro épico. Suas ilustrações são belíssimas, gostaria que tivessem mais. A tradução é muito bem feita, acredito que seja a melhor lançada até hoje. O papel é de qualidade. O único contraponto é o peso, mas sinceramente quem realmente se importa? Basta ler com algum apoio.
Agora sobre a história em si, o que posso fazer é escrever para quem nunca leu as obras de Tolkien e quer começar pela trilogia.
O mundo que Tolkien criou é gigantesco. Existem várias eras, e a trilogia se passa em apenas um pedacinho dessa linha do tempo. Então para que você tenha uma melhor experiência que eu, sugiro pesquisar um pouquinho sobre as eras passadas, não precisa nem ler os livros anteriores, mas pesquise para não ficar tão perdido em algumas citações.
A sociedade do anel é um livro muito arrastado. Desculpem, mas é verdade. A linguagem é mais robusta e tem momentos que você vai querer largar tudo e se entreter somente com os filmes. Porém se você for resiliente e chegar ao Duas Torres, sinto te contar que até a batalha no abismo de Helm será penoso igualmente.
Mas após isso a história começa a desenvolver e tomar um rumo diferente. E quando você chega ao Retorno do Rei, bem, esse livro merece que se fale muito sobre.
Que livro senhores! O Retorno do Rei é um dos melhores livros que já li. Ele possui um ritmo crescente, mas ao mesmo tempo é tão controlado que nunca acelera de mais, e nunca fica estagnado. A linguagem rebuscada não atrapalha mais a história, pois Tolkien achou um meio termo onde ela se encaixa perfeitamente. Tudo vai se encaixando e se resolvendo naturalmente, e nada é forçado. Você é surpreendido a cada plot. Os personagens possuem o auge de seus arcos, e você vê que Tolkien tinha noções muito a frente de seu tempo sobre temas como saúde mental.
O mais diferente dessa obra que nunca havia visto até hoje é que o autor conseguiu mostrar o quanto a jornada afetou seus personagens, mesmo após tudo se resolver. O clichê que temos em filmes ou livros onde tudo fica bem no final não acontece aqui. Os acontecimentos vividos por eles trouxe marcas. Alguns conseguem conviver com isso, outros não, e não estou falando que o mal ainda exerce poder na história, mas que Tolkien demonstra as marcas psicológicas que a guerra traz, a quem vive nela. Não é fantástico pensar que o autor escreveu sobre isso de forma tão realista quando a medicina dava seus primeiros passos acerca do assunto?
Agora sobre o final (Pequenos spoilers à frente); Não que eu não soubesse o final de Frodo nos portos cinzentos, pois já havia assistido os filmes alguns anos antes de ler o livro. Mas mesmo assim não foi o suficiente para me preparar para a leitura. Frodo sofre de TEPT, algo que ambos compartilhamos. Então talvez sejam os gatilhos, mas esse capítulo me fez ir às lágrimas incontáveis vezes. Passei alguns dias digerindo o que aconteceu para enfim poder escrever algo sobre, por para fora alguns sentimentos que o final de Frodo me trouxe. Não sei o motivo mas ainda acredito que no final ele não suportou suas feridas e morreu, mesmo tendo lido que ele foi a uma terra abençoada. Seu final é um fiel retrato do que acontece com quem já sofreu algum trauma. Você volta para casa e da de cara com duas amargas verdades. A primeira é que o mundo não vai parar para te esperar. A vida continua para todos, e mesmo que alguns poucos tenham empatia, somente quem viveu algo semelhante entende seus esforços para retornar a "normalidade" (nesse caso somente Sam entendia, e isso porque teve de usar o um anel). Lar é algo que construímos. Apesar de sempre associarmos o "LAR" a um lugar específico, ele não passa de uma construção da nossa mente. E quando temos a nossa mente 'quebrada', por mais que retornamos a um lugar seguro, é muito difícil construir um lar novamente, pois nossa capacidade está completamente alterada pelo que vivenciamos durante a experiência traumática.
"-Temo que esse possa ser o meu caso — disse Frodo. — Não existe um retorno de verdade. Embora eu possa voltar, o Condado não será o mesmo, pois eu não serei o mesmo. Fui ferido por faca, ferrão e dente, sem falar no fardo que carreguei por tanto tempo. Quando poderei descansar?"
"— Mas — disse Sam, com as lágrimas brotando em seus olhos achei que o senhor também ia desfrutar o Condado, por muitos e muitos anos, depois de tudo o que fez.
— Eu também já pensei desse modo. Mas meu ferimento foi muito profundo, Sam. Tentei salvar o Condado, e ele foi salvo, mas não para mim. Muitas vezes precisa ser assim, Sam, quando as coisas correm perigo: alguém tem de desistir delas, perdê-las, para que outros possam tê-las."
Sam é o personagem mais foda dos livros. Ele foi fiel ao seu amigo, ele viveu o trauma junto de Frodo e foi capaz de ajudá-lo, compreende-lo e não abandoná-lo. Fiquei tão feliz ao ler que no final ele conseguiu construir o seu lar e viver uma vida plena após tudo.
Por fim, concluo minha resenha sobre a trilogia destacando o quanto o final dela foi triste para mim. Quem sabe daqui a alguns anos eu consiga reler os livros, mesmo assim, apesar de ser uma nova apaixonada pela terra média, não sei quanto tempo levará para retomar a coragem de refazer essa jornada.
Que obra magnifica.