Thay262 27/09/2022
A magnificência de Tolkien em criar todo um universo fantástico é notável.
A sensação que tenho é que J.R.R Tolkien primordialmente criou a geografia de seu universo, posteriormente criou os diferentes habitantes com suas mitologias originais, crenças, história e culturas. Para só então criar personagens específicos e delinear um enredo com sub-tramas.
É justamente a construção de mundo, e cada pequeno detalhe dele, que surpreende o leitor. O autor conta sobre seu "mundo" com tamanha naturalidade e irreverência, como se conhecesse intimamente cada parte dele, que muitas vezes a sensação é de que o lugar é real (Como leitora, muitas vezes me vi imersa nesse "mundo" a ponto de esquecer que era uma obra de fantasia).
Os personagens, todos, são meros coadjuvantes frente ao principal destaque: Eä/Arda/Terra-Média. Na fantasia de Tolkien é o território, seus povos, histórias e mitologias que encantam. A sensação é que enquanto outros autores intuitivamente exploram a complexidade de seus personagens, Tolkien intuitivamente explora a complexidade do mundo onde os personagens fazem parte. Creio eu que é justamente isso que faz dele um autor tão especial e aclamado na fantasia, nesse quesito Tolkien é estupendo.
Por outro lado, apesar de meu deslumbramento com a genialidade de Tolkien em tamanha habilidade de criação, costumo me apegar aos aspectos psicólogos e no que tange a individualidade dos personagens mais do que outras coisas. E com Tolkien a jornada e desenvolvimento dos personagens não me prendeu tanto quanto eu gostaria, e a trama de "o bem/benigno contra o mau/maligno" para mim já é um clichê (Tolkien pode ter inovado, mas isso já é tão utilizado hoje que qualquer narrativa assim é previsível).
- Logo, a mitologia de mundo criada por Tolkien é fascinante, mas seus personagens não me cativaram tanto (acho inclusive que o autor era mais apegado aos aspectos mitológicos por ele criado que a personagens, e isso já demonstra como ele era MUITO especial como autor de fantasia).
Compreendo agora porque gostei mais de O Hobbit (mais focado num único protagonista e a trama central não tem nada haver com "salvar o mundo de algo nefasto") que de SdA, e porque fiquei deslumbrada com O Silmarillion (mas não fui capaz de me apegar ao "todo mitológico" e por isso não consegui me aficcionar tanto assim pelo universo idealizado por Tolkien).
Em resumo: Sim, J.R.R Tolkien tem merecida fama porque é um gênio da fantasia e um autor realmente único em sua forma atípica de, ao invés de focar em personagens, destacar e delinear um universo inteiro com mitologia própria.
Sua obra vai encantar quem gosta de um universo vasto e bem construído. Porém, quem tem preferência a individualidade e dá primazia a fatores psicológicos, ao pensamento, aptidões, interesses, desejos, inclinações, sentimentos, sensações, emoções, falhas, defeitos e intuições de personagens, como eu, pode sentir que "algo deixou a desejar" na obra de Tolkien.
- Mas não que isso desmereça a obra, de forma alguma. Em todo caso, achei incrível. E se ele, além dele criar um mundo assim tão fantástico e complexo, ainda pussesse isso tudo que citei a obra teria que ter mais 1000 páginas e eu acharia inacreditável. Geralmente é isso aí, ou o autor é bom em criação e construção externa de mundo, ou é bom em criação e construção interior de personagens.
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