Lucas1429 21/04/2024
Bela sequência que nos ensina a origem do julgamento humano.
A primeira história é a tragédia em que Clitemnestra vinga-se de Agamemnon por ter sacrificado sua filha, em virtude da ordem dos deuses.
A segunda história, Orestes, filho de Clitemnestra e Agamemnon, vinga-se da morte de seu pai, por ordem de Apolo, matando sua mãe.
Na terceria história, as Fúrias saem do mais fundo do inferno (tártaro) onde habitam para perseguir Orestes, posto que seu crime de matar alguém do mesmo sangue é grande e as Fúrias são as encarregadas do inferno de punir tal crime, fazendo a ele perseguição implacável.
Orestes apela a proteção de Apolo que o orienta a buscar Atena (Minerva), deusa da sabedoria, para que lhe dê um julgamento humano. E é assim que seis jurados empatam os votos e surge o famoso Voto de Minerva, a favor de Orestes. Não satisfeitas, as Fúrias, deusas antigas e com a prerrogativa delas ofendidas, resolvem por amaldiçoar a terra de Atenas a partir de então. Mas Atena persuade-as de não fazer isso prometendo a elas um culto permanente em sua terra, e elas assim aceitam, convertendo-se em deusas bondosas (eumênides), e não mais em furiosas.
Entre outras coisas geniais, a história trata do sentimento de justiça que temos quase como um instinto primitivo de retribuição exata: a morte paga-se com a morte. Uma justiça completamente proporcional, também conhecida de Lei de Talião.
Ela vem desde as camadas mais profundas (Tártaro) do ser mas precisa ser elevado ao ponto mais alto para um julgamento adequado - no caso da história, o Areópago, que é a montanha mais alta de Atenas, onde ocorreu o julgamento.
Elevando-se assim este sentimento de desejo de punição, é possível um julgamento mais justo.
Na mitologia grega, ainda, Têmis é a deusa dessa justiça retributiva, a justiça divina. Ela tem uma filha chamada Diké, a justiça humana: que exige a ponderação das partes para um conhecimento adequado do caso até proferir um juízo adequado.
É essa a justiça ocorrida nessa Tragédia, que conta mitologicamente a primeira aplicação da justiça humana. E revela-nos que somente a partir desse modelo de justiça humana é que é possível converter as fúrias da sociedade e satisfazer com adequações esse sentimento de injustiça primordial que cada um tem. Do contrário, a aplicação da justiça divina, isto é, a retribuição completa, significaria uma injustiça que se perpetua, como dizem os romanos: summa jus, summa injuria, a completa justiça é a completa injustiça, posto que o seu exercício deve ser presidido pela sabedoria (Palas Atena), cuja ponderação saberá dar aquilo que é devido a um caso concreto, do contrário, o que veríamos é uma sequência infindável de pessoas vingando-se pela morte de outros, como ocorreu nas duas primeiras histórias.