Rafael 05/03/2023
A liberdade em profanar o próprio universo
Publicado em 1984, o quinto volume da série Duna, por Frank Herbert, Hereges de Duna mostra não apenas o desenvolvimento das sociedades apresentadas nos volumes anteriores, depois de um intervalo de mais 1500 anos, mas o desenvolvimento da escrita de Herbert.
Em todas as sequências do original até aqui, é visível a apresentação de pelo menos um elemento grandioso no universo que se mostra como um grande papel no desenrolar da história. Aqui não é diferente. Já era esperado na verdade.
Nos deparamos com personagens novas, sociedades novas, armações novas. Mas tudo sob uma ótica diferente, que repudia na maior parte do tempo, tudo o que era valorizado no passado. E qual a melhor forma de profanar um passado extremamente religioso de uma sociedade profética, do que mostrar o desenvolvimento da sociedade através da importância do sexo?
Neste quesito Herbert é brilhante. A filosofia, as intrigas, estão todas lá, sendo salpicadas agora, por uma onda de fervor e temor sexual que ao mesmo tempo que é esclarecedora em alguns momentos, é desconfortável, como deveria ser. O ato revolucionário da heresia precisa causar choque. E choca de diversas formas. Pela formação de personagens e pela genialidade em explicar questões abertas desde os primeiro livros de maneira genial.
Mas algo não encaixa. A trama demora para se desenvolver, deixando todos os plots, (das diversas personagens que acompanhamos), travados de propósito. É extremamente comum um autor querer esconder um elemento central de sua trama para gerar uma grande revelação e proporcionar um clímax recompensador. A recompensa nos dada aqui, no entanto, é como tentar esconder um elefante na sombra de um poste. A grande revelação de Hereges de Duna, poderia muito bem não ser tratada como uma grande revelação. Se fosse, desde o início um fato esclarecido, poderia ser trabalhada de formas diferentes, que provavelmente levariam a um final mais recompensador.
Isso acontece pois Herbert opta, principalmente ao fim da história, em promover grandes saltos temporais, que fazem com que as preocupações que temos ao acompanhar certos personagens no fim de um capítulo sejam prontamente jogadas de lado no começo do próximo, quando eles já estão em outro lugar, fazendo outra coisa.
Hereges de Duna é um dos livros mais complexos da série até agora por causa disso. Apesar do grande dinamismo, acaba fazendo com que percamos a atenção com muita facilidade devido as opções narrativas tomadas pelo autor. Ainda a considero como uma parte importante, e razoavelmente bem concretizada. Parecemos ao final que temos uma grande história, mas mal desenvolvida.