jota 19/05/2012Estranhezas ucranianasAutor ucraniano, boa pedida. Livro de capítulos curtos, alguns com apenas uma página; outros, encerram, às vezes, uma pequena história. O protagonista é Viktor Alekseievitch, autor frustrado. Ele vive em Kiev e escreve contos para vender aos jornais. É um tanto taciturno, está sozinho, a amante o deixou. Tem como companhia um pinguim real que acolheu quando de uma campanha do zoológico (em crise financeira) pela adoção de animais.
Micha adora peixe, é claro, e banhos de água fria na banheira de Viktor. Ele se comporta como um cachorrinho que sente saudades do dono quando ele viaja, sorri, quando ele retorna e também parece agir como uma pessoa: "À noite, nos intervalos do sono leve, Viktor ouvia o pinguim vagar pela casa torturado pela insônia. (...) parecia que o pinguim parava e suspirava pesadamente, como um velho cansado da vida e de si mesmo." Micha tem um xará nesta história, que é chamado então de não-Micha por Viktor.(Às vezes parece que tem uma mão de Kafka pairando sobre o texto...)
Bem, um jornal da cidade contrata Viktor Alekseievitch para escrever necrológios. Não simples obituários de pessoas recém-falecidas, mas de gente ainda viva, especialmente militares, funcionários do governo, deputados do Parlamento, industriais, etc. Viktor, valendo-se de seus talentos literários, como diz a sinopse, “descreve a morte que imagina que eles terão, facilitando assim o trabalho da imprensa na cobertura de uma eventual morte.” Mas aos poucos ele “começa a desconfiar que seu verdadeiro trabalho é escrever roteiros para alguma misteriosa equipe executar.”
Apesar de estar sendo bem remunerado, essa situação ameaça sua paz - sempre que lê as notícias policiais e vê que seus textos fictícios acabaram se tornando realidade, sente que está envolvido nalgum negócio perigoso. Muito perigoso.
De fato. Mas antes disso, talvez na passagem mais nonsense do livro, Micha, o pinguim é diagnosticado com uma doença cardíaca, necessita fazer um transplante de coração. E um reputado médico ucraniano diz a Viktor que o órgão que o pinguim precisa é o de uma criança de três ou quatro anos de idade...
Querem mais? Leiam o livro de Andrei Kurkov, então. Não é nenhuma obra-prima, mas é muito bom. E termina com um final estranho (para nós), mas que não podia ser muito diferente daquilo mesmo.
Lido entre 14 e 19.05.2012.