Lethycia Dias 06/12/2019Controverso, porém muito útilEssa será uma avaliação longa, porque quero comentar esse livro da maneira mais honesta que eu puder. Há alguns dias, eu estava à procura de materiais de estudo baratos e de fácil acesso, e navegando pela Amazon, acabei encontrando este livro. A disponibilidade no Kindle Unlimited facilitou muito as coisas para mim, já que eu não dispunha de muito dinheiro para comprar livros e cursos.
De início, estranhei bastante o título, mas logo compreendi. O autor utiliza bastante a metáfora da "fila dos concursos": quem decide estudar para concurso público entra em uma longa fila, onde somente aqueles que já estão estudando há anos e acumulam muita experiência em provas, editais e no estilo de aplicação de cada banca conseguem ser aprovados. Mas a proposta do livro é de "furar" essa fila, e assim, o autor conta como desenvolveu seu próprio método para estudar de maneira focada, atingindo resultados satisfatórios de forma rápida, e como conseguiu, com isso, ser aprovado em um concurso público muito mais rápido do que esperava. O livro se destina às pessoas que temem passar anos estudando, que se angustiam em pensar na possibilidade de se esforçar durante tanto tempo sem saber se um dia conseguirão ser aprovadas. Isso me interessou bastante, mas a leitura me despertou sentimentos e pensamentos bastante contraditórios.
Em geral, não sou uma pessoa que compra fácil qualquer "fórmula de sucesso", e embora grande parte do que o autor afirmava na apresentação do livro fizesse sentido para mim, todo o texto me parecia uma dessas fórmulas. Durante boa parte do tempo, eu não tive certeza se podia confiar ou não no que estava lendo. Vou explicar isso melhor ao longo desse texto.
O autor defende o uso de boas estratégias como forma de preparação para concursos públicos, mas foge bastante das estratégias mais comuns recomendadas por cursinhos e professores. Na verdade, ele desmistifica e contraria vários mitos muito difundidos por concurseiros, professores e especialistas em concurso público. Ele desenvolveu suas próprias estratégias de preparação e estudos, que afirma serem muito mais eficazes para quem tem pouco tempo para estudar e quer ser aprovado o mais rápido possível. Posso dizer que parte dessas estratégias me pareceu muito boa. Os conselhos sobre como escolher um cargo que possibilite mais chance de aprovação (levando em conta o nome do cargo, condições de trabalho, local de aplicação da prova e de lotação, matéria cobrada no concurso, salário e benefícios, entre outros fatores) são muito bons, por exemplo. A ideia de manter o foco em um objetivo a curto prazo dá uma sensação muito grande de segurança e de saber aonde está indo. Admito que estudo para concurso público há muito pouco tempo e que ainda não tenho nenhum tipo de estratégia definida, mas parte dos conselhos dados pelo autor me ajudou a refletir bastante sobre como estou estudando e quais decisões estou tomando, e acho que questionar aquilo que estamos fazendo é muito importante.
O capítulo "O estudo eficiente" e todos os seus tópicos talvez seja o ponto mais controverso do livro. Aqui, o autor contraria bastante o senso comum, destacando bastante a ineficiência de algumas formas de estudo (videoaulas, cursinhos, grupos de estudo, resolução de questões) que são consideradas boas formas de estudar. Mas é preciso lembrar, é claro, que essas formas de estudo são consideradas ruins do ponto de vista de quem pretende ser aprovado logo. O autor ressalta isso muitas vezes ao longo de todo o livro, lembrando que para quem deseja ou pode ir persistindo devagar, ao longo de anos, o caminho é outro. Gostei, sobretudo, dos conselhos sobre estudar utilizando resumos, doutrinas e questões comentadas, e pretendo adotar isso nos meus estudos.
Algo que me incomodou bastante durante toda a leitura, porém, é a forma como o autor se refere às pessoas que conseguem ser aprovadas em primeiro lugar, os candidatos vistos como mais inteligentes e bem preparados. O autor se refere a essas pessoas como "gênios", "monstros", "superdotados". De início, eu compreendi esse pensamento. Afinal, como algumas pessoas conseguem ir tão bem nas provas? Esse é um questionamento comum, que eu mesma já me fiz. Mas depois de algum tempo lendo o livro, passei a achar que a forma que o autor falava era bastante ressentida e amargurada. Em certo trecho, o autor fala sobre como é nocivo sentir inveja das pessoas mais bem-sucedidas nesse mundo dos concursos públicos, mas toda vez que se referia aos primeiros aprovados dessa forma, parecia que sentia inveja da determinação e dedicação ao estudo que essas pessoas parecem ter.
Outro ponto que me incomodou foi repetição enorme de frases no imperativo como "Dê um jeito", "Arrume tempo", como soluções imediatas para quem não pode se dedicar muito aos estudos. Esse é um dos maiores problemas de pessoas trabalhadoras, que não podem, por exemplo largar seus compromissos para se dedicar exclusivamente ao estudo. Dizer "Dê um jeito" não parece uma forma muito boa de motivar alguém que trabalha oito horas por dia, pega vários ônibus no trajeto de volta pra casa, chega à noite e ainda tem que preparar o próprio jantar ou cuidar de filhos pequenos, por exemplo. No fim do livro, após narrar sua trajetória como concurseiro, o autor assume um discurso de "destinação", fazendo referência à fé religiosa como única coisa que o levou a atingir bons resultados, o que eu acho uma grande contradição com toda a argumentação apresentada anteriormente. Entendo que pessoas religiosas podem acreditar que suas realizações na vida só acontecem (além da vontade e esforço próprios) porque primeiramente foram permitidas por Deus, mas acho que não faz o menor sentido o autor ter afirmado isso de maneira tão enfática no fim do livro, depois de tantas páginas explicando como desenvolveu seu próprio método de estudo, superou as próprias dificuldades e melhorou seus resultados. Independente de qualquer fé religiosa, foi ele quem conquistou a aprovação, pelo próprio mérito. O livro prova isso.
Por fim, preciso também dizer que o autor fala bastante sobre os concursos da área jurídica, que é sua área de formação e trabalho. Todo o conhecimento que ele expõe no livro, desde como escolher um cargo até a forma de estudar as matérias das provas, é referente apenas às diversas áreas do Direito. Todos os exemplos são sobre isso. Alguém que tenha outra área de formação, que é o meu caso (Comunicação) pode se sentir bastante deslocado lendo isso. O livro com certeza pode ajudar bastante quem também é formado em Direito, mas talvez uma parte dele não seja muito proveitosa para o concurseiro de nível médio, que estuda para cargos completamente diferentes e que faz provas com outras dinâmicas. Acredito que a melhor forma de ler esse livro e qualquer outro sobre estratégias em concursos seja sabendo identificar quais conselhos são úteis para a própria realidade e quais podem não fazer nenhuma diferença ou até mesmo atrapalhar. Foi assim que eu li esse livro: separando aquilo que parece proveitoso para mim e aquilo que não parece.
Apesar de todos os pensamentos contraditórios que o livro me proporcionou, foi uma boa leitura. É um livro rápido, bastante didático, de fácil compreensão. Não vou encará-lo como uma grande "verdade", uma "fórmula do sucesso", mas com certeza vou manter o e-book no meu Kindle para poder voltar a consultá-lo até a realização da minha próxima prova.