MiCandeloro 22/03/2017
De cair o queixo!
ANTES - Emma havia sido assaltada. Dois delinquentes encapuzados invadiram o seu apartamento enquanto seu namorado, Simon, não estava. Traumatizada até a raiz do cabelo, Emma só queria saber de se mudar, mas nenhum apartamento que visitavam lhe conferia a segurança que a jovem buscava. Até conhecerem a casa na Folgate Street nº 1.
Projetada por Edward Munkford, um renomado arquiteto, mundialmente premiado e conhecido por suas construções minimalistas, a residência não tinha nada de trivial, a começar por sua estrutura, que mais parecia um bunker e se destacava das demais, provocando os moradores locais.
Além disso, a moradia era um tanto quanto inteligente, possibilitando ao inquilino controlá-la por meio de aplicativos instalados no celular, lhe garantido um maior conforto e pessoalidade.
Mas para usufruir de tais peculiaridades havia um custo, e não estou falando de dinheiro, mas de sacrifícios pessoais. Para começo de conversa, o candidato a morador deveria preencher um enorme questionário e, se aprovado, seria pessoalmente entrevistado pelo construtor. Ao chegar na última etapa, deveria assinar um contrato composto de inúmeras cláusulas e proibições que seriam capazes de mudar o estilo de vida de qualquer um.
O que ninguém imaginava é que tal casa se tornaria o cenário de tantas mortes que marcariam e entrelaçariam a vida de tanta gente.
AGORA - Jane perdeu sua bebê. Após 9 meses de gravidez, Isabel nasceu morta. Sentindo-se completamente perdida na vida, sem ninguém com quem dividir a sua dor, Jane largou o emprego e decidiu se mudar, mas com o alto preço dos aluguéis, o único local que encontrou e que cabia em seu orçamento ficava na Folgate Street nº 1.
Desde que fora entrevistada por Edward, Jane se sentiu fisgada por aquele homem rígido e poderoso, e o interesse mostrou-se mútuo quando Monkford a procurou. Mas ele não era nada parecido com nenhum homem que Jane já havia conhecido. Edward era controlador e perfeccionista, e deixou claro que não queria se comprometer em nenhum relacionamento.
Aceitando as imposições do amante, as visitas de Edward à casa passaram a ser mais frequentes, e quanto mais Jane convivia com ele, mais se assustava com seu comportamento frio e distante. Quando soube que Emma havia namorado Monkford e tinha morrido de maneira misteriosa ao pé da escada, Jane decidiu investigar por conta própria o ocorrido na tentativa de desvendar o culpado, pois tinha receio de estar dormindo com o assassino. Será que Jane corre perigo?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Quem era ela chegou para mim de uma maneira muito inusitada. Assim como Emma e Jane, tivemos que responder a um questionário com algumas perguntas bem absurdas, que depois percebi que haviam sido retiradas da história; e somente os que foram considerados dignos do livro é que o receberam através de uma ação feita pela Editora Intrínseca. Embalado em uma caixa, com dizeres sobre o antes e o depois da narrativa, em cada um dos lados; a embalagem contribuiu para criar uma áurea de mistério sobre a obra.
Fazia semanas que eu tentava ler algo e não conseguia, nada me prendia e eu estava me sentindo entediada, e decidi dar uma chance a Quem era ela e só posso dizer que foi a melhor coisa que fiz. Fiquei absorta logo nas primeiras páginas e não consegui parar até chegar ao fim.
Escrito em primeira pessoa, o texto é intercalado entre as protagonistas, Emma e Jane, e nos mostra de maneira complementar o que aconteceu com ambas em duas janelas diferentes de tempo: o antes e o agora.
O que mais amei na escrita do autor é que em momento algum sabemos quem está falando a verdade. Encontramos tantas versões diferentes sobre um mesmo fato que passamos a desconfiar até da nossa sombra. Isso muito me lembrou de Garota Exemplar, que utilizou do mesmo artifício, nos revelando os segredos dos personagens de forma homeopática de modo que descobríssemos o que de veras aconteceu só no desfecho.
JP Delaney se mostrou entendido em diversos assuntos para compor a trama. Pela primeira vez na vida vi um escritor citar a terapia EMDR, ainda tão pouco conhecida por profissionais, que dirá pela população. Delaney também foi preciso ao relatar as minúcias da gravidez, os exames gestacionais e as opções de parto. Isso sem falar das construções arquitetônicas diferenciadas e da tecnologia aplicada às casas inteligentes. Mas ele arrasou mesmo ao criar personagens mentirosos compulsivos. Foi chocante observar no quanto é fácil para eles mentirem e pior, acreditarem em suas próprias fantasias. Terrível perceber que pessoas assim existem no mundo real.
Também adorei a composição de Edward, um personagem que me lembrou tanto de Christian Grey e que me deixou na dúvida de se eu gostava dele ou não.
Tratando de temas como a perda, a necessidade de recomeçar abrindo mão do que passou, a dificuldade de se relacionar com as pessoas e um modo de viver mais minimalista e inteligente, Quem era ela misturou ação, com um suspense de tirar o fôlego e uma investigação criminal que me deixou de cabelo em pé.
E por mais que a casa tenha se mostrado como uma das vilãs, por ter bagunçado a cabeça de muita gente, confesso que adoraria ter tido condições de morar nela e de me aperfeiçoar como ser humano a partir das experiências proporcionadas por sua modernidade.
Mais do que recomendo esta leitura. Estou no momento sofrendo de uma grande ressaca literária. Entreguem-se à Quem era ela e embarquem neste thriller eletrizante.
site: http://www.recantodami.com