Larissa3225 21/11/2021Desculpa, mas é chato.Avaliar Os Maias foi um tanto difícil para mim. Apesar de conseguir ver toda a qualidade do livro, entender os motivos pelos quais ele é considerado um dos clássicos da literatura portuguesa e reconhecer o esforço feito pelo autor em fazer um retrato da sociedade portuguesa do século XIX, a minha experiência de leitura foi horrível. E é da combinação desses dois fatores que vem a avaliação: cinco estrelas pela qualidade e relevância, uma estrela pela experiência ruim.
De forma resumida, achei o livro extremamente cansativo e arrastado, com alguns poucos momentos divertidos e interessantes. Em alguns dias, eu lia por horas e avançava apenas 20, 30 páginas. E o fato dos capítulos serem infinitos não ajudou nem um pouco.
Porém, a parte estranha é que eu estava interessada na família Maia e gostava de ler sobre o que acontecia com eles. O problema é que, entre uma coisa ou outra que acontecia de interessante com alguém da família, existia um grande nada preenchido com a vida cotidiana dos personagens. E eu entendo que esse era o objetivo: retratar a vida da alta sociedade de Portugal naquela época. Mas isso não impede de a vida dessa gente ser desinteressante. Talvez dizer desinteressante seja exagero, até porque as amizades, as brigas, os casos, as traições são legais de ler sobre. Mas todos os debates sobre política, literatura, economia, como a vida deles é uma merda, o país terrível que era Portugal, etc, era chato de acompanhar.
E por falar em como "Portugal era um país terrível", preciso deixar registrado que não existe um "grupo" de pessoas que não é ofendido (por falta de palavra melhor) por algum personagem: portugueses, espanholAs (sim, mulheres da Espanha), brasileiros, negros, indígenas e africanos (tratados como selvagens), mulheres, pessoas gordas, e por aí vai. Apenas os franceses se salvam. Essas passagens não me fizeram diminuir a nota, porque entendo que eram pensamentos comuns à época (e, infelizmente, ainda existem hoje) e, por isso, faz sentido que estejam presentes no livro. Apenas me chamaram atenção por acontecerem com uma frequência enorme. (Lá pelas tantas, eu já não aguentava mais ler sobre como Fulana de tal é maravilhosamente branca, pálida, como mármore ou porcelana, de um branco ebúrneo, etc).
Acredito que por estar muito mais interessada na vida d'Os Maias do que no retrato da sociedade da época, gostei mais dos primeiros e últimos capítulos do que do meio do livro. Nos capítulos iniciais conhecemos melhor a família e de onde ela vem e, nos últimos, temos a conclusão de um problema familiar. Problema este que, na época, deve ter sido um grande plot twist, mas que agora vem revelado na sinopse do livro. (OK, não existem spoilers de um livro escrito em 1800 e bolinha. Mas não é como se todos os leitores do mundo fossem grandes consumidores de literatura clássica e soubessem de todas as reviravoltas de todos os livros já escritos). Acho que teria gostado de me surpreender com a revelação.
O livro não funcionou para mim. Eu reconheço toda a qualidade e acho que ele faz muito bem o que se propõe a fazer. Dito isso, a proposta é chata. A vida, o cotidiano, as ideias dessas pessoas... É tudo chato. Contudo, existem duas exceções. Preciso enaltecer dois personagens que, toda vez que apareciam, eu já esperava alguma palhaçada divertida: Dâmaso, com sua obsessão em ser "chique a valer", e João da Ega com o seu desprezo pela moralidade.
Ega, vestido de Diabo, chateado que foi pego no flagra é TUDO PRA MIM.