jota 15/12/2019Décadence avec élégance e muito tédio
Imagino que Os Maias, considerada por muitos críticos lusitanos a obra-prima de Eça de Queirós (1845-1900), um dos marcos da cultura portuguesa, seja motivo de profundo interesse e de muito estudo por especialistas portugueses de literatura. E para os leitores comuns, como seria a relação deles com o livro?
Para aqueles que já haviam lido e apreciado bastante O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Relíquia etc., não deve ter sido lá muito fácil atravessar os enormes capítulos de Os Maias. Que são repletos de diálogos e discussões intermináveis, descrições infindáveis de ambientes, roupas, objetos, tantas coisas mais. Assim, acompanhar a tediosa vida de Carlos de Maia, sua turma e seus amores por quase seiscentas páginas me pareceu grande parte do tempo mais um fardo do que um legítimo prazer.
É que Eça se preocupou demais em retratar com profundidade a burguesia (decadente) de Portugal, da Lisboa de seu tempo, em seus vários aspectos e se os capítulos iniciais prometiam alguma ação ela parece completamente dissolvida nos capítulos seguintes, somente retornando com algum alvoroço lá pelos capítulos finais (que continuaram imensos), quando importantes revelações são feitas. Há um grande segredo envolvendo os personagens centrais e queremos saber como tudo terminará, certo?
Mas até lá temos de acompanhar os personagens da alta sociedade lisboeta, que mesmo usufruindo de grandes prazeres ali mesmo na cidade, desprezavam Portugal e tinham como referência de vida boa a capital francesa. Paris era a meta deles, que consideravam a melhor cidade do mundo então, a mais bela, culta e civilizada. Se não residiam lá, vários personagens viajavam constantemente para lá.
Disso tudo eu já sabia, porque esta é uma releitura: tinha achado o livro um tanto entediante da primeira vez, na adolescência, e queria desfazer essa impressão agora. Finda essa nova leitura devo confessar que continuo pensando que aquelas obras de Eça citadas acima tinham personagens e enredos mais interessantes do que Os Maias. E nem tomavam tanto tempo de leitura assim...
De um modo geral os personagens desta história repleta de adultérios parecem todos bastante fúteis e beberrões, pouco chegados ao trabalho e muito aos prazeres da cama e mesa, às bebidas, aos charutos... Certo, são personagens e eles podiam agir assim, mas talvez nem tudo o que foi narrado aqui sobre eles tenha sido simplesmente imaginado pelo autor; certamente vários deles apresentam traços de pessoas que Eça conheceu, com quem conviveu etc., daí a necessidade de retratá-los assim ou assado. Então, por diversas razões nem sempre se estabelece empatia entre personagens e leitores, a leitura fica difícil.
Bem, também parece verdade que se Eça fosse escrever sobre os pobres, os empregados dos Maias, vamos dizer, talvez pudesse faltar assunto para ele. Mas não para os leitores de hoje em dia. O que dizer de Carlos de Maia que, para esquecer seus (graves) problemas de relacionamento passa um ano e tanto viajando pelo mundo, visitando paisagens inesquecíveis, comendo e bebendo do bom e do melhor, se hospedando com luxo etc.? Como dizia Lobão, o cantor e compositor, “sua vida não tem muito sentido” e não faz muito sentido gastar tanto tempo lendo sobre gente assim.
Lido entre 28/11 e 14/12/2019. Minha avaliação da relação com a obra: 3,8.