Barbara.Tomaz 18/01/2024
Podia ser melhor.
Confesso que fiquei na dúvida de quantas estrelas dar para esse livro, então, se você gosta (ou gostou) ou se estiver lendo ou até querendo ler, não me leve a mal. Sempre é dificil resenhar ou opiniar sobre um livro popular.
Pois bem, Scott Hahn se dedica a relacionar o livro inteiro de Apocalipse com a celebração da santa missa, a idéia em si é até interessante e permite que o fiel católico vá para a igreja sabendo um pouco mais a respeito de sua fé cristã, dos dogmas da igreja e da Bíblia. Contudo, embora a ideia do autor seja até boa, não são poucas as vezes em que o texto ou as explicações ficaram óbvias ou superficiais demais. E, infelizmente, em alguns momentos, a interpretação ficou bem forçada.
O próprio autor, num dado momento, confessa que seu livro não é um estudo bíblico de Apocalipse. Logo, o livro se trata de algumas associações e reflexões breves que Scott faz com passagens do livro de Apocalipse. Não espere profundidade ou argumentos mais elaborados, e até completos.
Por vezes, para justificar alguns argumentos, Hahn usa citações do catecismo da igreja católica romana, didaqué, uma ou outra citação de algum pai da igreja, versículos bíblicos isolados etc. Todavia nem todas as vezes as referências bíblicas citadas foram bem aplicadas aos argumentos que ele tentou dar. Por isso, podia ter sido melhor.
Um exemplo disso foi quando ele explicou que Apocalipse 2 e 3, a expressão "ao anjo de..." se refere realmente a anjos, o que geralmente as igrejas atribuem essas expressões (por assim dizer), a líderes humanos que são responsáveis pelas igrejas citadas. Ora, se fomos ao texto iremos ver que a idéia de Scott é incompatível com a passagem bíblica pois não foram seres celestias que estavam correndo risco de sofrerem em prisões por causa da fé em Cristo (Ap 2.10), muito menos que eram tolerantes a doutrina de Balaão (Ap 2.13-14), que ainda podiam se arrepender de seus pecados (Ap 2.5), que resistiam a falsos apóstolos (Ap 2.1-3) etc. Resumindo: Hahn subtraia o contexto e resignificava conforme aquilo que ele queria afirmar ou tentar explicar. (Isso é perigoso de se fazer! Cuidado com as resignificações!).
Outras vezes, o autor apela para o lado emocional, compartilhado seu testemunho de mudança de credo/confissão de fé para justificar ou passar maior credibilidade sobre algum ponto. Você, como leitor, acaba conhecendo um pouco mais da história pessoal do autor (o que é legal), mas nem sempre bom para o momento de explicações etc.
Isso faz com que praticamente o livro começa mesmo na metade do livro, mais ou menos, na segunda parte. Antes disso, há uma pequena enrolação e justificação do porquê ele gosta do livro de Apocalipse (dura umas 30 páginas nisso). Tipo, ele por vezes escreve a mesma coisa só que com palavras diferentes ou vai para outro assunto e depois volta, tipo, começa falando de A, vai para B e C, e volta para concluir A. A impressão que me deu foi que ele quis comentar sobre vários assuntos num livro só ou, pelo menos, de uma vez só.
Scott pode ser bem culto e uma referência (não tão atual) de protestante que virou católico, mas isso não significa que ele seja isento de erros intepretativos, assim, se você estiver lendo ou quiser ler, leia com a Bíblia aberta e leia todo contexto do capítulo bíblico, se possível até, leia antes o livro de Apocalipse todo para entender melhor o contexto e saber quando Scott manipula o texto para enfatizar sua opinião.
?Claro, nem tudo achei ruim. Gostei do nome do livro (pois é rsrs) e de algumas frases como:
" O pecado surge de nossa recusa a manter a aliança, nossa recusa a amar a Deus tanto quanto ele nos ama." - pág 100
" A paternidade de Deus não diminui a severidade de sua ira nem rebaixa o padrão de sua justiça." - pág 100
"Se fracassamos e pecamos, temos a obrigação de nos arrepender imediatamente. Se não nos arrependemos, então Deus nos deixa conseguir o que queremos: permite que experimentemos as consequências naturais de nossos pecados, os prazeres ilicitos." - pág 103
"Os católicos que participam todos os dias da missa, ouvem, ao longo de três anos, a leitura de quase toda a Bíblia (...)" - pág 54
Para leitores de Scott, que esse livro seja apenas o começo, como uma porta de entrada, para se interessarem a estudar as escrituras e pesquisar sobre o cristianismo. Leia sempre com a Bíblia aberta, comparando, e fazendo anotações pessoais.