Robson.Abrantes 10/01/2018
Crítica sem spoilers.
Organizados sob forma de crônicas, e dividido por temas (tempo, linguagem, roteiro, diversos), o livro é essencial não só para quem ama sétima arte, como também para quem quer compreender como o cinema, desde sua invenção, alterou nossa forma de ver o mundo.
O autor em si é muito inteligente, isso pode-se dizer sem medo. Além de grande conhecimento do cinema, principalmente do século passado, fácil de ignorar e desprezar atualmente, este não se restringe ao assunto cinema, mas contextualiza entrando em diversos outros temas, como política, economia, história, sociedade, filosofia e mais. Esse é o grande trunfo do livro ao meu ver. Os textos são permeados pelos mais diversos assuntos filosóficos, trazendo valiosas e sensíveis reflexões sobre a existência humana.
Não espere um manual técnico, almanaque de filmes. Quer dizer, temos bastante sobre técnica, produção de filmes nos seus bastidores, dificuldades de levar um roteiro ao filme, diferenças do teatro para o cinema, e mostra de como o cinema foi evoluindo com o tempo e sociedade, assim como a linguagem (não só cinematográfica). Porém, o autor usa de sentimentos e questionamentos, que tornam tudo mais pessoal e correlacionável, divertido e prazeroso de ler.
O livro é um tapa na cara para quem acredita que o cinema é perda de tempo, do qual não se pode aproveitar nada. Fica fácil de ver pelos argumentos do autor que o cinema é uma arte, nem menor nem pior que as outras, talvez até mais completa por abarcar várias (literatura, fotografia, música), além de ferramenta cultural, capaz representar uma época, sociedade, nos fazendo refletir sobre nossa natureza e o mundo que estamos construindo.
Definitivamente um must read. Não há como sair o mesmo depois dessa leitura. Se não mais apaixonado pelo cinema, no mínimo com um conhecimento deste e de mundo maior.
P.S.1: Ver um filme nunca mais será a mesma coisa depois desse livro. Os clichês e artimanhas usados abusadamente são desmascarados, ficando de fácil reconhecimento por aí. O nível de qualidade das películas terá de se garantir daqui para frente.
P.S.2: O autor passa longe de ser presunçoso e arrogante, caminho fácil de cair para alguns críticos no ramo. Deixa algumas indagações sobre o futuro do cinema bem interessantes.
P.S.3: Poderia citar diversas frases, citações, parágrafos que me marcaram. Mas termino com este: os filmes “se mesclam às nossas vidas, influem na nossa maneira de ver o mundo, consolidam afetos, estreitam laços, tecem cumplicidades”.
Que saudade que dá dos filmes antigos e da era de ouro do cinema