Milena @albumdeleitura 07/03/2017
O Fino da Bossa
Paralelamente à realização do I Festival de Música Brasileira, produzido pela TV Excelsior no ano de 1965, a TV Record preparava a estreia de um programa que revolucionaria a história da música e da televisão brasileira: O Fino da Bossa. Estrelado por Elis Regina e Jair Rodrigues, o Fino é tido como símbolo de um movimento cultural que agitou a Terra da Garoa entre as décadas de 1960 e 1970 e que daria origem, mais tarde, ao termo MPB.
"Fino" era uma gíria comum na época para descrever alguma coisa muito boa. Como Pelé, que jogava o fino da bola, o "fino da bossa" era aquilo que de melhor poderia haver de música moderna no Brasil.
O programa foi responsável por impulsionar a carreira de artistas como Chico Buarque, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Wilson Simonal, entre outros. Dividido em vários capítulos, o livro aborda não apenas os primeiros passos da criação do programa que agradava ao público de maneira geral, como também, o início de carreira dos principais envolvidos no projeto, juntamente com detalhes sobre a vida pessoal de cada um deles que até então eu desconhecia.
Nunca fui muito ligada nesse estilo de música, portanto, conheço algumas poucas músicas dos artistas aqui mencionados, mas me surpreendi com a desenvoltura de Jair Rodrigues (que plantava bananeira no palco), divertindo os espectadores, como também com a geniosidade de Elis Regina, que não à toa, recebeu o apelido de "Pimentinha". Mas que acima de tudo, duas pessoas tão opostas como Jair e Elis, conseguiram dar equilíbrio ao andamento do programa durante quase uma década, garantindo um estrondoso sucesso no Ibope da Record, que foi comprometido, com o surgimento, na mesma emissora, de um programa que introduzia a guitarra elétrica à batida musical, movimento que ficou conhecido como Jovem Guarda, liderado pelo rei Roberto Carlos e seus colegas Erasmo Carlos e Wanderléa. A partir de então, gerou-se uma rivalidade entre a turma do Rei e da Pimentinha, principalmente por parte desta, na disputa pelo gosto do público. Elis Regina jamais aceitou o surgimento da Jovem Guarda, alegando não ser música de verdade, pois rompia com as raízes nacionais. Hoje, sabe-se que ambos os estilos musicais enquadram-se na MPB e têm seu respectivo valor.
Por fim, um incêndio de grandes proporções no prédio sede da TV Record pôs fim a todo o acervo, e conferiu dificuldade extra ao trabalho de pesquisa, restando apenas as lembranças na memória de quem viveu naquela época.
A narrativa é muito bem escrita, rápida e recheada de informações e curiosidades sobre os fatos existentes naquele período. Recomendo a leitura para todas as pessoas, independente do estilo musical favorito, pois trata-se não apenas de relatos sobre um movimento musical, mas também da formação da identidade histórico-cultural de todos os brasileiros.
O Fino da Bossa faz parte da coleção "Movimentos Musicais", criada pelos jornalistas Júlia Bezerra e Lucas Reginato com o objetivo de homenagear a diversidade musical brasileira. Cada um dos livros tem como objetivo marcar o momento histórico-cultural de nossa música. As narrativas são independentes e podem ser lidas de acordo com a preferência do leitor. Os outros dois livros são Funk e Manguebeat.
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