Luiza Helena (@balaiodebabados) 01/11/2017Originalmente postada em https://balaiodebabados.blogspot.com.br/"Quando tudo é sangue, sangue é tudo. *"
Nevernight é um livro que já estava na minha lista de leitura desde que apareceu em um intercâmbio literário por aqui. Com essa capa maravilinda e essa premissa um tanto diferente, foi amor à primeira vista.
Depois de ter visto sua família ser arruinada, Mia Corvere só tem um objetivo na vida: vingança. Para isso, ela está disposta a fazer tudo. Quando digo tudo, é tudo mesmo. Mia está disposta a manipular, enganar, seduzir e (por que não?) matar também. Mia é bastante determinada, corajosa, calculista, mas também impulsiva e cabeça-dura. Ou seja, vamos vê-la quebrando muito a cara, o que achei legal já que ela acha que sabe tudo sobre matar, mas também sabe que tem muito o que aprender na Igreja Vermelha.
"Nunca trema. Nunca tema. E nunca, jamais, esqueça. *"
Mia é tem um dom que, assim como eu e você, sabe poucas coisas sobre ele. Mia tem um companheiro um tanto diferente: o não-gato Senhor Simpático, que é feito de sombras. A personalidade do não-gato é parecida com a da Mia e isso gera conversas engraçadas e regadas no sarcasmo e ironia.
Os personagens secundários foram otimamente trabalhos e construídos. Na Igreja Vermelha, temos vários aprendizes - destaque para Tric e Ash - que, assim como Mia, querem servir à Nossa Senhora do Bendito Assassinato. Também temos seus shahiids (honrados mestres) e o misterioso Senhor das Lâminas, Cassius. A história tem uma quantidade relativamente grande de personagens, mas são personagens memoráveis. Kristoff soube trabalhar todos de forma otimizada e, ao mesmo tempo, de um jeito que não ofuscasse sua protagonista.
"Niah. A Deusa da Noite. Nossa Senhora do Bendito Assassinato. Uma das esposas de Aa, e mãe da Treva faminta dentro de todos nós. *"
Um ponto forte da história é o universo criado. Os primeiros capítulos podem ser cansativos e confusos por conta da ambientação a esse mundo, mas digo para não desistir. A maioria das explicações, narrações e/ou descrições desse mundo são feitas através de notas de rodapé, o que achei um recurso bem legal. Se quiser ler, leia; se não, segue o baile. Só sei que achei super demais essa de um lugar com ares romanos que tem três sóis e nunca anoitece (a não ser a cada dois anos e meio). Aí fica a pergunta: mas eles não dormem? como é a passagem dos dias? Todas essas respostas você encontra no livro.
É indiscutível como todo esse universo foi bem criado e super criativo e percebe-se que o autor pensou nos mínimos detalhes para fazer a história mais agradável possível. Algumas notas de rodapé são bem irônicas, o que combina bastante com o que ele quer explicar. Entretanto, com falei antes, a maioria é uma aula sobre a República de Itreya, que inclui história, geografia, política e religião. Alguns capítulos começam com flashbacks da vida de Mia. O interessante é que esses flashbacks têm ligações com os acontecimentos do capítulo.
"Você jura servir à Mãe da Noite? Jura aprender a morte em todas as suas cores e a levar em nome dela a quem a merecer e a quem não a merecer? Jura tornar-se uma acólita de Niah e instrumento terreno da escuridão entre as estrelas? *"
Outro ponto que gostei foi da escrita do Kristoff. A narração do livro é feita em terceira pessoa, o que eu geralmente prefiro em fantasias por dar uma maior amplitude nos cenários. A história de Mia é póstuma, contada por algum aleatório sobre como Mia se tornou uma grande assassina. Os capítulos são longos, mas a escrita dele é bem ágil e sem muitos rodeios que você nem percebe as páginas passarem. As descrições são detalhadas, mas não de um jeito cansativo. Elas são detalhadas o suficiente para você conseguir se imaginar no lugar e não cansar da leitura.
Apesar da personagem ter dezesseis anos, esse livro passa longe de ser uma fantasia YA. Esse detalhe me lembra muito com a série Corte de Espinhos e Rosas é vendida lá fora como fantasia YA que eu fico com uma cara de “que?”. Como falei, a narração é bem direta e, em certos momentos, bem crua. Logo no começo do livro, pegamos o impacto de como vai ser a história. Sério. O livro é bem gráfico, principalmente em suas mortes, desmembramento e pegações, por isso eu classifico como fantasia adulta.
"Nem todos os mortos morrem de verdade. *"
Falando em pegações, temos um pouco de romance (se é que a gente pode chamar assim), mas nada que ofusque a história. Completamente deixado de segundo plano, você até esquece rola entre Mia e um dos aprendizes. Mas quando o babado é lembrado, é lembrado bem caliente. Outro detalhe que faz com que o livro passe longe de ser um YA.
"Quanto mais brilhante a luz, mais profunda a sombra. *"
Eu tinha uma breve ideia de como se daria tudo no livro, mas como sempre fui feita de trouxa. Tem o trouxa legal e o trouxa ruim. O trouxa legal é quando o autor consegue te surpreender com um plot twist que estava praticamente na sua cara e você nem viu. E foi isso que acontece aqui em Nevernight. O que mais gostei foi que o autor foi construindo nas entrelinhas o boom que desencadeou os acontecimentos finais que eu só me restou dar uma de Pabllo Vittar e ficar gritando YUKÊ? a torto e a direito.
Eu sabia que seria fisgada por Nevernight. Por isso fui com todas as expectativas possíveis e impossíveis e não me arrependi. Estou sedenta por Godsgrave e a continuação dessa jornada de Mia e sua vingança.
"Você começa do nada. Não possui nada. Não sabe nada. É nada.*"
*Sinopse e quotes retirados da edição da Plataforma21
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