neto0533_ 28/06/2023
Uma ótima, mas confusa introdução para a segunda trilogia.
Quarto livro da saga, Imperador Deus de Duna foi lançado pela primeira vez em 1981. Se passaram 3.500 anos desde o final do último livro, e o Império agora é governado pelo Imperador Deus, uma versão quase imortal de Leto II, em processo de metamorfose desde sua mescla com trutas de areia no livro anterior.
Como seu próprio título diz, o Imperador agora é praticamente cultuado como um Deus, governando de forma tirânica, e cumprindo seus objetivos com o Caminho Dourado com o controle de seu exército pessoal de mulheres ? as Oradoras Peixe.
O deserto de Duna agora foi reduzido a apenas uma pequena parte do planeta ? em relação à sua atual área fértil ? fazendo com que a produção de especiaria diminuísse cada vez mais, e Leto fosse o único responsável pela distribuição da mesma, mantendo assim sua posição como regente do Império. Com viagens pelo espaço proibidas às pessoas comuns e controladas passo a passo pelo Imperador, surge uma rebelião contra seu governo, com parte dela sendo liderada por Siona Atreides, descendente de Ghanima e Farad'n, que acredita que o universo seria melhor com a destruição completa de seu Imperador.
Nesse livro, Herbert dá enfoque para Leto na maioria dos capítulos, tentando passar um senso de humanidade a um personagem que deixa cada vez mais de ser humano. A ideia de Leto II sendo um tirano, controlando o universo com mão de ferro, e tentando justificar seus métodos de forma forçada e presunçosa a outros personagens acaba afastando o leitor um pouco desse personagem, que nem por isso deixa de ter mais camadas. O ritmo é mais lento que o dos livros anteriores e as cenas de ação são mais escassas, dando mais espaço para filosofia, política, religião e ecologia ? assuntos já recorrentes na saga.
Mesmo avançando na construção de universo e apresentando novos conceitos, parece que o modelo de grandes conflitos e tramas dos livros anteriores foi deixado um pouco de lado para contar uma história mais fechada em seu próprio escopo, como se fosse uma pausa no prosseguimento da saga para dar enfoque em eventos específicos, (parecido com o que ocorreu no segundo livro, mas de uma forma mais bem desenvolvida) que podem ser importantes para os próximos livros, mas que acabam prejudicando o ritmo da narrativa.
Toda a construção de universo de Duna acabou sendo um pouco suprimida nesse livro, com várias questões como a presciência, a especiaria e os vermes de areia sendo somente citadas, causando certa estranheza no leitor que já havia se acostumado com essas questões no livro anterior. O foco do livro é desenvolver o protagonista de uma forma complexa e talvez preparar o terreno para os dois últimos livros da saga, cumprindo esses objetivos muito bem e deixando várias questões em aberto para serem solucionadas na parte final da saga.
Como parte de uma saga, o livro não avança totalmente a história, mas cumpre bem sua proposta de ser uma pausa para dar enfoque no governo e personalidade de Leto, e introduzir mais fortemente o conceito do Caminho Dourado apresentado no terceiro livro. É uma leitura meio cansativa por causa dos capítulos filosóficos e os quase monólogos do Imperador Deus, mas é um grande avanço na parte política da saga, desenvolvendo muito bem as questões de uma sociedade governada por tirania, já mostradas no segundo livro, mas tendo um maior foco e desenvolvimento nessa obra.