Andre.DSoares 13/05/2017
Resenha por Hilário Francisconi
Acabo de ler o livro “Poesias que escrevi com fome”, de André D’Soares, Editora Penalux, SP, 2017. Digo acabo, mas voltarei a ele outras vezes, lógico!
André é o tipo (entenda-se estilo!) do poeta que nos faltava. Ainda muito jovem e já pronto para a ótima e impactante poesia, os seus versos seguem, um após outro, a passos confiantes no equilíbrio de sua linguagem e no ritmo frenético de quem viveu, já, uma vida inteira.
Com um sólido senso dos problemas sociais, o autor larga na “pole position” ao deflagrar a persistente injustiça ainda praticada contra os oprimidos, como em “Injustiça”, pág. 32: “O problema / Desse esquema, doutor, / Está na diferença de largada (...)”.
A um tempo realista e romântico, o poeta revela ao leitor o seu tom inconfundivelmente cavalheiresco, cuja claríssima sensibilidade lança-o diretamente ao raríssimo rol dos partidários do romantismo: “O seu café, senhorita, / É a poesia que eu mais venero. / Porque ele é feito / Com as mãos mais delicadas / Que eu já vi nesta vida (...)”, pág. 66.
Em sua maioria, os poemas de André jogam o poeta-narrador no cerne do drama, quando no ímpeto de sua atividade artística, uma vez mais a revelar a experiência do jovem poeta e o seu fino trato com as representantes do sexo “frágil”: “Flor oriental, / Por que desabrochaste / No jardim alheio? / (...) Deixa-me te regar, Flor, / Com meu amor em líquido, / Com meu coração em sol. (...)”, pág. 75.
A origem humilde do poeta simples, conforme declarações em relacionamentos sociais verificados em um sítio cibernético conhecido, traduz as suas raízes profundas em “Como escreverei, / Poeta desgraçado, / sobre um mundo que não é meu, / Nem da minha gente?”, pág. 88.
O livro “Poesias que escrevi com fome” abre de vez o nosso apetite para uma leitura temperada com o prazer da boa literatura. E que venham outros trabalhos, em verso ou em prosa, que a fome, agora, é nossa...
Hilário Francisconi, poeta e membro titular da Academia Niteroiense de Letras.