@fabio_entre.livros 17/07/2024
Continuando
O primeiro volume de "Berserk" era composto por três partes: "O Espadachim Negro", "O Estigma" e "O Anjo da Guarda da Ambição". Esta última ficou sem conclusão, estendendo-se a este segundo volume e indo até o terceiro. Como ficou estabelecido no volume anterior, que apresentou o contexto geral do universo fantástico e sombrio de Miura, acompanhamos Guts em busca de vingança contra os God Hand (as divindades malignas responsáveis por uma tragédia do seu passado). Para isso, ele procura e confronta os Apóstolos, seres monstruosos que já foram humanos, mas que se deixaram dominar por demônios dos God Hand em troca de poder e imortalidade.
No final do primeiro volume, Guts estava tendo que lidar com o Conde, um Apóstolo que usa o pretexto de caçar hereges (lembrando que estamos num mundo baseado na Europa medieval) para cometer as maiores atrocidades contra a população da cidade, ou melhor, do feudo que ele governa.
Se até então o leitor tinha alguma dúvida sobre o caráter de Guts, neste segundo volume Miura faz questão de destruir qualquer ilusão de heroísmo: ele não está aqui para salvar ninguém, e nem para bancar o Robin Hood daqueles miseráveis. Basta ver a forma como ele trata seu recente "aliado", Vargas (uma das vítimas do Conde, que está ajudando Guts a sair de alguns apertos), ou o desdém sarcástico com que ele recebe os conselhos de Puck para se tornar mais compassivo. Seja como for, estou achando Guts um protagonista muito interessante; talvez, porque eu goste de anti-heróis, talvez porque há tempos peguei ranço de mocinhos justiceiros. Ademais, mesmo levando em conta o elemento fantástico presente na obra, o contexto histórico é preponderante na narrativa. É uma época de horrores (sobrenaturais ou não), dominada pela violência e a ganância; não há espaço para heróis. O mais próximo disso são os mercenários e, evidentemente, seus "atos de bravura" são remunerados pelos lordes e reis que os contratam. Mas isto é outra história; não adiantemos as surpresas.