the.vitorverse 21/05/2024
O mal-estar na civilização (Sigmund Freud, 1930)
Ô livrinho denso! Li a edição eletrônica, com suas noventa e nove páginas que me pareceram facilmente pra lá de trezentas. E não porque a leitura seja chata; é que o raciocínio de Freud é muito complexo, uma ideia ligada à outra, e se você se distrair um pouquinho, já era, perde o raciocínio inteiro.
O que eu extraí dessa leitura é que a civilização é um mal necessário: mal porque nos impõe privações que nos tornam neuróticos; necessário porque sem ela para regular as relações, ficamos expostos à agressividade de outros seres humanos.
Aliás, é para manter sob controle essa tendência à agressão que a civilização enfraquece e desarma o indivíduo, fazendo com que uma instância psíquica em seu interior (conhecida como Superego) o vigie. O Superego ameaça o Eu com a perda do amor: «Se eu agir dessa forma, não serei amado; se eu pensar nisso, não serei digno de receber amor». E dessa forma os instintos mais primitivos (oposto de civilizados) do indivíduo ficam sob controle.
E é daí, ao menos em parte, que vem o mal-estar. Dessa civilização introjetada em nós, representada pelo Superego, que nos vigia incessantemente, que conhece cada pensamento nosso, cada limitação, cada tendência imoral. Como poderíamos ficar em paz?
Como disse o homem do subsolo, de Dostoiévski (cujo livro li paralelamente a este de Freud, inclusive): «Juro aos senhores que ter consciência demais é uma doença, uma doença de verdade, perfeita.»