Kalliny 06/07/2022
O mal - estar na civilização
Freud apresenta-nos a angústia derivada da relação do Homem com o mundo frente aos reclamos dos instintos. Discorre sobre a preservação de todas as fases anteriores vividas pelo ser humano e, desse modo, o autor sustenta que o passado está preservado em nós. Concorda com a indicação de Romain Rolland, um amigo seu, que lhe explana a questão da existência de um ?sentimento oceânico? para explicar a fonte da religiosidade, o qual é subjetivo e que todo ser humano, religioso ou não, o tem. Apesar de Freud concordar, destaca que este sentimento tem sua gênese no sentimento do ?ego?.
Necessita-se de um propósito para viver, sem ele a vida perde o seu valor; desse modo a religião consegue assumir esse papel. O Homem busca constantemente a felicidade,. A decisão do propósito de vida é da ordem do princípio do prazer e o nosso aparelho psíquico é dominado por ele desde a primazia do ser. Entende-se que a felicidade é uma satisfação repentina das necessidades represadas, entretanto, quando da permanência da felicidade, o contentamento torna-se frágil.
Vale salientar que, para Freud, a felicidade é um projeto imposto pelo princípio do prazer e que os caminhos para a felicidade existem, mas não são tão seguros.
O autor, destaca a preocupação com a natureza e alega que jamais ir-se-á controlá-la por completo e pontua que o corpo também integra esta natureza. A civilização, segundo o autor, é a responsável pela desgraça da humanidade; se não fôssemos civilizados seríamos primários, viveríamos sob o princípio do prazer e aí seríamos felizes. A felicidade é, na sua essência, subjetiva.
A civilização exige beleza, limpeza e ordem, inspirada na natureza. Quanto mais ideal, religião e filosofia, maior é o índice de civilização. A civilização regula os relacionamentos sociais e, caso eles não existissem, os instintos primários destacar-se-iam.
Quando o Homem primevo passou a conviver numa vida comunitária, formaram-se as famílias, que sobreviviam pelo trabalho, descobriu-se o amor genital e, com ele, intensas experiências satisfatórias. A descoberta do amor funda e alicerça o conceito da família. Amor-genital formando famílias e o amor-afeição formando amigos.
Temos inclinação da agressividade perante aos outros e conosco, isto nos perturba muito ao nos relacionarmos com os demais. É difícil amar aquele que não conheço. É difícil manter o ensinamento ?amar o próximo como amas a ti mesmo?. Quando essee proximo mas satisfaz a minha agressividade, submetendo-o a diversos papéis, como: trabalho escravo, abuso sexual, roubo, humilhação, sofrimento, tortura, morte, etc.; as paixões do instinto são maiores que qualquer outro interesse
Sempre haverá a destruição da natureza para a construção da civilização. O homem primitivo achava-se mais confortável por não conhecer as restrições do instinto, por outro lado, o Homem civilizado abriu mão de uma parcela de possibilidapossibilidades de felicidade por uma parcela de segurança. O controle da natureza pelos Homens deu-lhes o poder de exterminá-los, este é o principal mal-estar na civilização traduzido por inquietação, infelicidade e ansiedade.
Após a leitura da brilhante obra de Freud coloco 2 questões:
1. Naquele cenário do início dos anos 30, o homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de ser feliz por uma porção de segurança, renunciando ao princípio do prazer e aceitando o princípio da realidade obedecendo aos preceitos impostos pela civilização, agora, refletindo sobre o novo cenário, ou seja, 77 anos após a escrita de Freud, depois da II Grande Guerra, da guerra do Vietnã, da guerra fria, do crescimento do terrorismo, da queda das torres gêmeas, dos ?Big Brother? e a troca do privado pelo público, da globalização, enfim, diante de tantas mudanças, quer dizer, evoluções históricas, lembrando Zygmunt Bauman no livro ?O mal-estar da pós-modernidade? pergunto: as perdas e ganhos trocaram de lugar, pois hoje homens e mulheres estão trocando aquela parte de de possibilidades de segurança por uma grande parte de liberdade?
narcisismo estaria no comando da civilização ?