MillenaSui 17/06/2023
Como se o mundo lhe fosse instigante o tempo todo.
"Muita gente usa a expressão "pegar o bonde andando" para descrever uma situação em que você pega algo no meio e não entende nada, mas, para um TDA, acho que é o contrário: você pega o bonde parado, fica nele até certo ponto e depois cai. O bonde continua, e você fica pra trás."
Levando em conta a metáfora do trecho anterior, posso dizer que, como TDAH que apenas foi diagnosticada na fase adulta, percebo agora como incontáveis os bondes dos quais caí ao longo de toda uma vida.
Durante a leitura pude perceber a imensidão de nuances e complexidades que permeiam esse transtorno, a ponto de ter passado a admirar imensamente a autora (que não só é TDAH, como também uma psicológica extremamente competente) por ter se aventurado nessa escrita tão densa. Ela apresenta informações técnicas como o que é o transtorno, métodos de diagnosticá-lo e como se dá o funcionamento químico que difere um cérebro "neurotípico" de um cérebro "neuroatípico" em termos do Déficit de Atenção e Hiperatividade, isso tudo de forma sucinta e com muita maestria na transmissão de informações para pessoas completamente leigas e pouquíssimo letradas em termos biológicos (como é o meu caso).
Por ser um transtorno de espectro tão amplo, é de se imaginar a impossibilidade de abordar tudo aquilo que o envolve em pouco mais de 300 páginas. O TDAH não só é um tópico de estudo recente para a medicina como também não se possuem respostas concretas para todas as dúvidas a seu respeito, já aquelas que se apresentam como mais superficiais e cuja desinformação, em torno de suas possíveis respostas, pode gerar, desde opiniões controversas até preconceitos e exclusão social, Ana Beatriz faz questão de sanar (ou ao menos nortear a pesquisa própria do leitor a respeito do tópico), utilizando-se de dados científicos expostos em linguagem simples e de bom entendimento.
A escrita da autora, sem dúvida alguma, é um ótimo ponto de luz para um TDAH que, mesmo tendo recebido um diagnóstico clínico, ainda se sente no escuro.