gleicepcouto 03/07/2014Conheci o trabalho do inglês Nick Hornby pelo cinema, na adaptação de Alta Fidelidade (com John Cusack), e desde então vim fazendo o caminho inverso ao ler seus livros. Até agora, gostei de todos, pois se mantiveram na média bom-muito bom, o que é uma ótima marca para quem tem dezenas de livros publicados. Em Uma Longa Queda (Cia das Letras), Hornby alcança a marca do muito bom.
O autor partiu de uma boa premissa, mas também perigosa. Falar sobre suicídio com um toque de humor ácido, sem cair na canastrice, é difícil. Hornby soube encaixar bem à sua história o lado tragicômico do nosso cotidiano.
Sua narrativa é ágil o bastante para nos prender às páginas (ele fez um ótimo desenvolvimento de 4 pontos de vista), e seus diálogos nos fazem esquecer de que aquelas falas são de personagens e não de pessoas de verdade. É essa possibilidade de identificação é o que faz de Hornby o escritor que é. Pois mesmo que o suicídio nunca tenha sido uma opção para você, ou que você não seja um apresentador decadente ou a mãe de uma criança deficiente ou qualquer outra pessoa, você conseguir visualizar partes de você na história. Essa empatia permeia todo o livro, nos levando a torcer pelos personagens de forma passional, e por vezes pouco convencional. Algo do tipo: “Ok, Martin. Tá difícil. Quer se matar, né? Vai lá que tô nessa contigo.”
Hornby consegue ainda embutir uma crítica à sociedade do espetáculo, quando seus personagens viram subcelebridades e quando ao mesmo tempo que exploram a mídia, se deixam ser explorados por ela (suicídio de valores?), levando tudo às últimas consequências.
Assim, Uma Longa Queda se mostra atual, mesmo tendo sido escrito em 2005. Na verdade, se o leitor ficar mais atento, perceberá uma série de cutucadas na ferida no livro: a mãe cansada de cuidar do filho deficiente sozinha (sim, porque mães são humanas também); o cara famoso que faz sexo com uma jovem de 15 anos e vai para a cadeia (que mesmo após o cumprimento de sua pena, não se absolve e muito menos é absolvido pelo status quo); o entregador de pizza que acha que só dá pra ser músico se for megafamoso (e os milhares que ganham a vida cantando em bar, casamento etc e se sentem realizados?); e por aí vai…
Por fim, Hornby conseguiu dar a sua cara a um tema tabu: Uma Longa Queda diverte e ainda te faz rever certos conceito. Indico muito.
Recentemente, o livro ganhou uma adaptação com um elenco de peso (Pierce Brosnan, Toni Collette, Aaron Paul), mas a crítica detonou o filme…
Observação maldosa: Nick Hornby é tudo o que David Nicholls quer ser, mas né?
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http://murmuriospessoais.com/resenha-uma-longa-queda-nick-hornby-cialetras/