Luan 26/01/2023
Uma caminhada deliciosa
A Longa Viagem a um Planeta hostil foi, de fato, uma leitura longa, mas não foi nada hostil. Foi, na verdade, uma caminhada deliciosa.
E assim defino o primeiro livro da americana Becky Chambers. Uma autora que eu sequer tinha ouvido falar um mês atrás. Ganhadora de um dos maiores prêmios da literatura de ficção-científica, o Prêmio Hugo, Chambers traz algo de novo para o gênero: tranquilidade.
Parece bobo, mas cotidiano e mundano não são adjetivos comuns em histórias com alienígenas, viagens interplanetárias e buracos negros ? pelo menos não de forma elogiosa. Pois, nesse livro, Chambers conseguiu a proeza de aproximar o espaço sideral do comum, do natural. E o que acontece quando naturalizamos, na ficção, coisas fantásticas? Elas se aproximam de nós. Nos faz acreditar que aquilo é real, verossímil.
Mas qual é o segredo da autora? Como ela faz a gente desejar ir para o espaço e viver aventuras quase suicidas? Com os personagens. Personagens com carisma e vontade própria. Através deles, Chambers cria um universo inteiro, cheio de possibilidades. Mais do que isso, ela faz a gente se importar com cada um deles, a temer por suas vidas. E adivinha só? O espaço é perigoso. Quer o tempo todo nos matar. E, meu Deus, como eu agradeço por esse livro ser tranquilo.
Sim, é verdade, A Longa Viagem não tem perseguição, grandes batalhas nem lutas sangrentas. Claro, ainda há tensão e conflitos, mas eles não caem no absurdo, como é comum no scifi. O que há aqui é uma história focada em desenvolver os atores que estão nesse palco. Uma história até que simples, mas que nos recompensa da melhor forma possível.
E a lição que fica, autores, é essa: o que importa são os personagens. Sempre. Sem eles, o mundo é vazio, como o espaço entre as galáxias.