Julhaodobem 12/06/2021
Resenhando - O Triste Fim de Policarpo Quaresma
A literatura Brasileira é mais fantástica do que imaginamos, ainda mais quando temos a força misteriosa da curiosidade para nos mover entre os livros. O Triste Fim de Policarpo Quaresma foi uma obra para mim que tirou dois grandes pontos de uma visão que todos temos, cada um a sua maneira, do nosso Brasil. Um livro escrito por Lima Barreto, um homem negro em plena república velha que teve sua ascensão na sociedade carioca graças aos acontecimentos repentinos. Este livro como a maioria que o autor escreveu são ligados com acontecimentos de sua vida que transparecem neste livro por meio dos personagens. Filho de escravos libertos teve um padrinho que naquels época ainda tinha o poder de um nobre visconde, um título que a coroa dava aos que tinham mais terras. Ele financiou seus estudos até ao que chamamos hoje de ensino médio, Lima Barreto foi um homem negro que conseguiu estudar e adiquirir um conhecimento sobre o seu Brasil. Não conseguindo terminar a faculdade e nem entrar no exército, acabou por fazer trabalhos burocráticos no quartel do exército, algo que faz inúmeras referências em Triste Fim de Policarpo Quaresma onde é perceptível grandes críticas á república. No livro acompanhamos Policarpo Quaresma um homem que tem uma paixão extrema pelo Brasil, um grande nacionalista que julga qualquer demonstração de outra cultura que não venha de seu país, comparando-se a um outro personagem peculiar da literatura, o Dom Quixote. Portanto, por ter questões de patriotismo e sociais o livro é considerado pré-modernista mas é possível ponderar que não seja bem desta forma pois o autor apresenta sim questões sobre o modernismo mas fica difícil ter uma resposta concreta pois Lima Barreto era um alto "militante", estava sempre criticando grupos mais privilegiados, inclusive a semana de 22 que é considerado o inicio do modernismo onde segundo Barreto era uma afronta a cultura brasileira pois para ele a tática de misturar a cultura Brasileira e a Européia para criar algo novo não fazia sentido, isto deficultava a cultura brasileira de criar suas próprias raízes. Desta forma não tem como não falar de Policarpo Quaresma no livro junto com seu autor pois é muito parecido durante leitura que se parecem com vida do autor, onde ira se deparar com acontecimentos que se chocam com a sua vida durante a leitura.
Portanto, no livro há um grande otimismo com o futuro do Brasil pois está começando a República, dizendo-se pelos personagens, finalmente uma "ordem e progresso". Com novas tecnologias que estavam chegando ao Brasil como telefone ou o telégrafo, desta forma deixando a época da escravidão para trás como uma memória esquecida e ignorada , com isto nasce o patriotismo excessivo que o personagem de Policarpo Quaresma, é o retrato concreto de alguém vidrado ao extremo em seu país, chegando ao ponto de ser um pouco perigoso, criticando e colocando defeitos em tudo aquilo que não é o Brasil. Algo presente nesta obra são as modinhas do violão, uma música que era muito usada pelos brasileiros na época e visto com um olhar preconceituoso entre as pessoas da elite, alguns portuguêses que possuiam um grande capital. Isto interessou-me pois mostra um pouco deste preconceito com músicas brasileiras que desde está época era mostrada e imposta pelas elites dominantes para termos a sensação de que a nossa terra sempre foi selvagem no sentido de "não civilizatória" e que somente os portuguêses criaram uma cultura, está erudita com qualidade, colocando as modinhas de violão como uma cultura paria e sem prestígio mesmo sendo feita em território nacional. Com isto não poderia deixar de retratar a desigualdade intelectual da época, que não acabou atualmente, ás pessoas que não fizaram faculdade mas buscam conhecimento pelos livros. Nós é mostrado uma intelectualidade de elite mesquinha e egoísta que sobem em altares para colocarem-se melhor que os trabalhadores, vendo-se como a salvação da sociedade pois são homens formados por instituições elitistas e privilegiadas. Para eles aqueles que lêem sem um diploma são considerados loucos, atualmente está ideia está distorcida mas ainda muito parecida, mostrando que isto é enraizado, a desigualdade e o preconceito no Brasil, mudando que hoje tanto um universitário como um leitor são taxados como loucos principalmente quando é a classe baixa e pobre pois os elitistas tem medo e nojo de dividir seus espaços de conhecimento brancos com pessoas negras. Estes espaços são mostrados na obra com a época da escravidão onde é olhada de uma maneira doentia como "uma visão de uma era cultural" entre negros com suas canções para aguentarem mais um dia sendo chicoteados ou trancados em uma senzala, que na obra por alguns personagens brancos é visto como uma era cultural fascinante e importante para o progresso brasileiro, tornando este momento crucial e natural no processo de crescimento da pátria.
Entretanto, mesmo esquecido o genocídio da população africana no Brasil, existe uma mistura interessante de portuguêses com as matrizes africanas durante o livro. Com formas de palavras e dialetos africanos que o nacionalismo de Policarpo Quaresma aumenta ao longo do livro como uma de suas ações, com a comunicação, algo que transcende além da obra com estudos sendos feitos com a língua Tupi ou linguas africanas, de serem uma lingua que o Brasil pegou uma parte e assim podendo ser a verdadeira lingua do pais como o caso das línguas indigenas que a maioria foi apagada depois da colonização. No caso das matrizes africanas retratado no livro, transforma-se em uma tentativa do personagem de mostrar que a língua do Brasil talvez não seria o Português como até hoje mas na verdade uma mistura, algo que Leila Gonzales em seus estudos chamaria de "Pretogues" uma lingua que nasceu entre escravos que morreram servindo nos campos, os verdadeiros brasileiros junto com os povos indígenas, homens e mulheres que lutaram morrendo nas mãos de homens portuguêses. Desta forma estes dois povos influenciaram a construção do Português brasileiro como é mostrado no livro já naquela época que foi escrita, vemos em várias palavras de origem indígena que usamos até hoje para chamarmos animais ou frutas nomeados por grupos de origem indígena. Usamos toda está oralidade sem saber que ela existe, algo que no livro pelo menos neste ponto específico, Policarpo Quaresma talvez faça sentido em brincar com as palavras indigenas em suas comunicações e o povo que o acha lunático sejamos nós leitores ignorantes que estamos fechados em nossa caixa Européia que não quer outras línguas nascendo pois se acham superiores, a única salvação da humanidade.
Com esta superioridade, tranparece uma interpretação que tenho dursnr a leitura de uma forma mais realista e pouco feita por escritores da época. O espaço e o subúrbio carioca se transforma em um lugar significante para a obra, demonstrando em uma realidade com suas imperfeições e pontos positivos de um Brasil nos seus primordios da república. Com as casas cada uma diferente das outras, seus formatos diferentes juntamente com as pessoas onde nenhuma se parece com a outra, cada um com seus rostos, roupas e classes diferentes, não que com toda está possível diversidade é algo bom, já que o preconceito elitista se parece ignorante a todo momento mas é interessante na obra está quebra de paradigma que outras obras colocam sempre lugares lindos e prefeitos, já neste livro existe tambem a beleza mas junto com a podridão, a pegriça e o descasso de lugares que não importantes para a história brasileira. Como todo livro nacional ele se liga profundamente com a nossa existência como sociedade, com costumes e atos que está presentes atualmente como a classificação e a racionalização , que no livro acontece de uma forma sutil mas facil de ser interpretada, com seus tipos de cor que é escondida pelo autor por um tempo para fazer com que nós leitores e leitoras pensem com o nosso pensamento popular da sociedade, fazendo nós entendermos em apenas um etnia, produzindo um personagem em nossas mentes para depois quebrar a espectativa de quem está vidrado na leitura. Portanto isso faz com que nós mesmos paramos para pensar em nossss percepções do que é diversidade, não de uma forma preconceituosa mas de uma maneira automática que o nosso subconsciente está acostumado, o que aumenta a importância deste autor para ser lido por todos os brasileiros pois nos faz perceber ao longo do nosso cotidiano o que é entrar entre as ruas de uma cidade brasileira.
Portanto, com tantos aspectos importantes da nossa história brasileira como revoltas ou novos postos de poder, tudo complementa com o narrador em 3° Pessoa que esta fora da história, observando e julgando os atos dos personagens enquanto descreve suas ações. Isto transforma-se em uma dinâmica onde é explicado sentimentos que um personagem não demonstra em suas falas mas que o narrador mostra para nós tudo que está passando pela sua mente, como suas angústias, medos e sonhos fantasiosos de um lar idealizado, que nós leitores sabemos que não existe na realidade. No qual seria impossível este livro ser está obra magnífica sem estar em 3° pessoa pois perderia uma das maiores partes e conhecimentos que deixa está obra a cada pagina mais satisfatória de ser devorada ao longo da leitura. Como questões da agricultura perfeita ou o casamento de um personagem em torno de questões políticas. Para tanto, com todas estas características marcantes que Lima Barreto colocou em sua obra é de se esperar que foi ele mesmo que pagou do seu bolso para publica-la em formato de prosa, sendo que antes foi publicado em folhetins, curtos capítulos em jornais, uma prática muito comum na época e que resultaram em obras importantes da literatura brasileira como Dom casmurro de Machado de Assis e Til de José de Alencar, tornando assim também O Triste Fim de Policarpo Quaresma a sua origem nos clássicos folhetins dos jornais pela manhã carioca.
O Triste Fim de Policarpo Quaresma foi uma leitura que aumentou a minha curiosidade na literatura brasileira. Graças ao clube do livro que participo, estou a cada dia abraçando essa literatura que foi escrita para este país, com este livro de Lima Barreto não foi diferente, aprendi pontos positivos e negativos de ser Patriota, principalmente quando passa dos limites estabelecidos e golpeia a democracia. Um livro que me fez refletir com os tempos facistas que meu Brasil vive, pois ser um brasileiro não é se fechar apenas ao nosso lar, isto pode ser perigoso e destrutivo, sem perceber que entre demonstrações de patriotismo podem destruir o verdadeiro significado do que é o Brasil e este livro me mostrou isto. Portanto, é importante valorizarmos nossa terra mas também é democrático entender que não somos os únicos a ter uma casa, adiversarios teremos aos montes e negações a todo momento mas o que este livro me ensinou além de outras formas mais profundas, é que o espírito brasileiro não pode morrer, não podemos sucumbir as trevas fingidas de um Brasil fantasioso que vive entre velhos que matam e sacrificam seus irmãos. Assim, a loucura deste livro é o que mostra-se quando separo suas visões e deixo a parte boa, que este Brasil viveu até agora era uma imagem criada para manipular. Acreditei por muito tempo mas quando li esta obra percebi que ele era ainda pior, só que um porém, ente as partes cinzas existe um Brasil com um glorioso propósito onde jovens como eu devem lutar, um Brasil tupi que por mais que possa parecer louco e desvairado, no fim faz sentido. Se formos correr atrás, irá se tornar um lugar que dará orgulho de dizer "sou brasileiro". Este é o poder da literatura brasileira quando lida com curiosidade.
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