spoiler visualizarYasmin1677 06/08/2016
Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, é um livro dividido em três partes, cada uma delas contando um período da vida do Major Policarpo Quaresma, que recebeu o título de Major como apelido e não possui essa patente militar, um homem extremamente patriota e um leitor assíduo. A primeira parte reflete bem essa característica tão marcante da personagem. Ele, um funcionário do Arsenal de Guerra, mora com a irmã Adelaide no Rio de Janeiro e dedica seu tempo ao estudo do Brasil. Muito criticado por isso, Policarpo é dito como louco, afinal os livros em que ele passa horas lendo comumente eram atribuídos a pessoas com "títulos acadêmicos".
Inicialmente o Major mostra um grande interesse pelas modinhas e pelo violão, instrumento que ele acreditava refletir a essência da pátria. E assim ele procura Ricardo Coração do Outros, um trovador que vai até a residencia para dar-lhe aulas de música. Com essa atitude, Quaresma atraí para si vários olhares de reprovação e uma má fama maior ainda nas redondezas, devido ao fato do violão não ser bem visto pela sociedade da época.
Policarpo procura também cantigas folclóricas e ensaia para uma apresentação em uma festa com o objetivo de espalhar e mante-las vivas, porém perde um pouco do interesse pelo violão quando descobre que a origem do instrumento não é totalmente brasileira.
Em comemoração ao casamento de Ismênia, o general Albernaz, vizinho de Quaresma, realiza uma festa em sua casa. É durante essa celebração que ocorre o diálogo entre vários personagens medíocres, com bastante nome mas que nada haviam realmente vivido. Tais como major Bustamante, doutor Florêncio e contra-almirante Caldas. É durante essa festa também que Genelício avisa a todos que Policarpo está "completamente louco".
E é desprendendo-se do violão que o Major encontra uma nova paixão, um estudo profundo do Tupi-Guarani. Policarpo passa dias e semanas estudando o idioma, aprendendo-o, e, tendo uma visão patriota da língua, ele escreve um requerimento a Câmera pedindo a adoção do Tupi como língua oficial do país.
Quaresma mais uma vez torna-se alvo de chacota por todo o Rio de Janeiro, tendo seu nome impresso nos jornais e em piadas por vários dias. O Major então é internado em um hospício, quando digita um ofício em Tupi ao seu superior e é dispensado, onde fica por seis meses.
É então que começa a segunda parte do livro, que tem como tema central a vida de Policarpo em seu sítio. Quando chega ao fim o seu período internado, o Major acaba por seguir o conselho de sua afilhada Olga e se muda para o interior, em um sítio em que ele chama de "Sossego".
Um detalhe que chama bastante a atenção é a personalidade de Olga, uma mulher adiante do seu tempo. É perceptível durante a leitura do livro um desejo por parte dela de fazer mais do que cuidar da casa e ter filhos, como era caracterizado a "função da mulher". Em certo ponto ela imagina como seria sua vida se caso fosse homem; podendo assim se dedicar ao estudo de um local, pesquisar e descobrir coisas novas, longe das exigências de um casamento firmado.
A ida de Policarpo para o interior desperta um mal em si que todos acreditavam que o Major já não sofria mais, o exaltado amor pelo Brasil. Quaresma dedica-se a estudar para poder transformar do seu plantio a sua sobrevivência e, talvez, mudar o pensamento do país em relação à agricultura para alavancar um crescimento econômico. O que ele não contava é que sua visão de "a terra mais fértil do mundo" fosse uma enorme ilusão.
Ao perceber que o trabalho árduo de manejar a enxada era demais para si, Policarpo contrata mais pessoas para ajudarem-lhe, tais como Felizardo e mais adiante Anastácio, entretanto os insetos e doenças que atacam as plantações e criações da redondeza, as previsões imprecisas de chuvas e sol e as altas taxas para vender seus produtos (que faziam com que o retorno fosse muito baixo) desanimam Quaresma.
O Major, que vivia pacificamente no município, precisa encarar outro problema quando mantem seus ideias e não participa de jogos dos candidatos políticos corruptos, criando assim inimizades, Quaresma começa a receber intimações e multas decorrentes das vendas de seus produtos e revolta-se contra a politica agraria do Brasil, aproveitando do estouro da A Revolta da Armada (movimento de rebelião promovido por unidades da Marinha do Brasil contra o governo do marechal Floriano Peixoto, supostamente apoiada pela oposição monarquista à recente instalação da República) para oferecer ao marechal Floriano o seu apoio.
Então entramos na terceira parte do livro, que narra todo o período em que ocorre a rebelião. Quaresma agora realmente adquire a patente de Major quando, as custas de 400 mil contos de réis, começa a servir em favor do marechal. Durante a leitura é retratado a forma como a sociedade do Rio de Janeiro acaba se acostumando com os tiros e todo aquele cenário passa a fazer parte do cotidiano dos moradores.
Major e Ricardo Coração dos Outros servem e é em uma carta para sua irmã Adelaide, que Policarpo expressa todo o seu pavor em relação a situação, falando sobre o sentimento de tristeza e culpa que carregava por ter tirado a vida de uma pessoa. Comenta também que ele sofreu um ferimento que requeria um pouco de tempo e cuidados especiais, mas que ficaria bem.
A revolta é reprimida e os inimigos capturados são mandados à prisão, onde são escolhidos e levados para a morte. Indignado com a brutalidade e com a frieza tratada com aquelas pessoas, Policarpo escreve uma carta ao marechal Floriano Peixoto com seu explicito inconformismo e é preso acusado de traição, sendo assim sentenciado a morte.
Quaresma, em sua cela, reflete toda a sua vida e expressa decepção com a certeza de que seu patriotismo foi inútil e em ver covardes serem transformados em heróis da pátria.
Enquanto isso, Ricardo Coração dos Outros, um amigo de Quaresma, tenta de todas as formas recorrer da decisão e pede ajuda para todos aqueles que cercavam o Major. Entretanto, muito medrosos para distorcerem seus nomes, ou indiferentes ao próprio Policarpo, não tomam um passo adiante.
Já desesperado, Ricardo procura Olga e lhe pede ajuda. A mulher, disposta a salvar seu padrinho, enfrenta seu marido e vai até o encontro do marechal, contudo é impedida de vê-lo e ela decide que era melhor deixa-lo morrer com seu orgulho.
Triste fim de Policarpo Quaresma é um livro narrado em terceira pessoa do período pré-modernista, se passa no inicio da República e é recheado de criticas, sendo a principal delas à ingenuidade e positivismo da personagem principal. Particularmente eu fiquei extremamente irritada com o final do livro, muito embora ele esteja longe de ser ruim. Você acaba criando uma simpatia por Policarpo, mesmo que suas longas afirmações e propostas nacionalistas sejam um pouco cansativas. Eu gostei bastante da obra de Lima Barreto e recomendo a quem tem um gosto mais eclético ou goste de clássicos. Que vá ler a obra com um olhar crítico, pois o narrador é impessoal as atitudes dos personagens, deixando para que o leitor tire suas conclusões.