CinMeireles 02/09/2023
(resenha em vídeo no link)
O livro inteiro é uma introdução para o ato final. Por esse motivo, durante boa parte da leitura achei a história entediante e sem nexo, já que se trata mais de uma série de casos recortados da vida de Quaresma e não de uma "história" propriamente dita. Por boa parte do livro, os relatos sobre as vidas ao redor do personagem principal são mais interessantes do que o próprio Quaresma, já que, se lhes falta tudo como personagens, ao menos servem como excelentes fios condutores às críticas do autor à sociedade da época. Já Quaresma, durante 80% do livro, é apenas uma figura sem profundidade e caricata, cujas ações mais peculiares são pinceladas pelo autor e distribuídas no decorrer dos capítulos sem muita conexão entre si.
É na parte final que a história realmente acontece, e é aí que entendemos que tudo que veio antes foi apenas uma contextualização do que estava por fim. Nas páginas finais é que Quaresma e as pessoas ao seu redor realmente ganham vida e personalidade - e o autor as aprofunda com uma maestria inesperada e impressionante. A consciência de Quaresma sobre si mesmo é quase dolorosa ao fim, assim como o sentimento de total impotência dos personagens que o cercam, e de indignação do leitor diante de fatos revoltantes, mas triviais. Os personagens que antes eram apenas infantis ou ingênuos agora são trágicos, e sua inocência resulta em destinos terríveis; os personagens que antes eram divertidamente maliciosos agora são duros, cruéis e egoístas. Se o livro começa com um tom de comédia e absurdo, ele termina com um tom de revolta, crueza e impotência. Não há finais felizes; qualquer traço de romantismo é duramente esmagado pela realidade.
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