André Ortelan 25/08/2021
O maior patriota da história do Brasil.
Vi em algumas resenhas por aí que Policarpo Quaresma é o Dom Quixote brasileiro, mas é necessário algumas observações. O cavaleiro de Cervantes luta contra os moinhos de vento por ver monstros onde não existem, já Policarpo, enfrenta a realidade, mesmo ridicularizado e sabendo que dificilmente vencerá.
Nosso Major Quaresma (naquela época, podia-se comprar uma patente, e assim se tornou major), é um sujeito reservado, pacato, pequeno, de meia idade, suburbano, sem mulher ou filhos, com um emprego mediano de subsecretário. Apesar disso é um patriota irremediável: loucamente apaixonado pelo Brasil em todos os seus aspectos, estudando-o com afinco e zelando por sua reputação sem medir consequências e é essa a primeira observação da obra: o ufanismo inocente. Quaresma não tempera sua paixão com criticidade alguma e torna a "defesa" da pátria sua prioridade de vida, alheio a questões que são de importantes observações (pelo menos até o final da história, permanece alheio). Nota-se que essa temática está em voga atualmente, quando cidadãos ingênuos bradam: "Brasil cima de tudo".
Lima Barreto, dá seu toque pessoal ao livro ao relatar o cotidiano suburbano carioca daquela época, não com violência, desordem e marginalidade, como de praxe. Mestiço e de origem humilde, o autor relata com propriedade como é a vida no subúrbio daqueles que trabalham e formam a esmagadora maioria das pessoas que ali moram.
Bom, pode-se dizer que Policarpo tenta exaltar o seu país de diversas possíveis: Culturalmente, tenta resgatar línguas, músicas e costumes, não sendo levado a sério e tido como louco; Economicamente, onde, ao não se render ao clientelismo rural da época e à falta de estrutura agrária, sucumbe também; Tenta com ideais políticos, quando l, mesmo sendo considerado um visionário pelo próprio presidente da jovem república, é ofuscado por pseudo-intelectualismos, politicagens e a máquina burocrática mal azeitada; Por fim, tenta glorificar a pátria militarmente, derramando sangue e suor por sua terra, termina esta empreitada semelhante às outras.
O fim de Policarpo Quaresma, digo, o triste fim, é trazido pelas armas do país que ele tanto amou.