R...... 07/03/2020
Coleção A obra prima de cada autor (Martin Claret, 2005)
A historia tem percepção sobre costumes, disposições governamentais e sociedade de seu contexto, de maneira provocativa, com Lima Barreto instigando criticidade para transformações almejadas e necessárias.
Paralelo comum é a equiparação de Policarpo Quaresma a Dom Quixote, o que justifica-se na valorização de sonhos utópicos. Importante também saber diferenciá-los, redundando em aspectos interessantes.
Quixote almeja realização pessoal, enquanto Quaresma deseja a realização coletiva. A alienação se faz presente nos dois casos, com visão desajustada da realidade no primeiro e em despreparo para lidar com ela no segundo. Importante para buscas desejadas...
Policarpo é um entusiasta que, tal como foi referenciado na primeira parte do livro, sobre ser major e não ter nenhuma formação ou experiência, também não tinha habilidades específicas para as melhores estratégias no que desejava, seja como militar, seja como visionário de transformações na sociedade. Prevalecia apenas o entusiasmo, sem aparato ou apoio necessário. Continuam as reflexões com o livro...
Entre as aspirações vemos valorização de identidade cultural e percepção da agricultura como força econômica. Aspirações importantes, que merecem reflexão e ação, ainda mais no contexto de descaso que o livro situa...
Mas ocorreram exageros, barreiras e despreparo para lidar com os desdobramentos, sendo os principais, além da debilidade metodológica, a percepção de governo indolente e egoísta, voltado apenas a seus interesses, descobertos injustos pelo protagonista, com imposição e repressão cruel, tirânica. Quaresma acordou de devaneios alienados. Importante...
Entrave também o comodismo social, que tem interesses egoístas da mesma forma. A sociedade é passiva às circunstâncias, entregue à influências, por isso explorada. Quaresma observa tais coisas, como no contentamento de quem se considerava rico apenas por ter oportunidade de comer arroz e feijão todo dia. Somente isso e dane-se o resto. E Lima Barreto continua instigando...
A história passa por momentos de comédia, principalmente no inicio, na ênfase da identidade cultural, com exageros como o cumprimento entre amigos no estilo tupinambá (na base do choro); tem melancolia, como na fase de investimento na agricultura, em que o protagonista pena com as saúvas, no desconhecimento sobre a terra e seus manejos; e tem drama de denúncia social, na revelação dos interesses governamentais injustos e egoístas, a que Lima Barreto sensibiliza através de seu protagonista. Livro revelador...
O principal paralelo está no início e fim da obra, em que vemos ação solitária de um sonhador e disposição decidida e reacionária em outras personagens (Olga e Ricardo Coração dos Outros). Reproduz sobretudo reação de elementos marginalizados em seu contexto, a mulher e o artista de genuína expressão popular. O momento pode ser dito, em meu entendimento, como herança da triste história de Policarpo Quaresma.
Válidas também as reflexões sobre as manobras que colocam as pessoas para lutar barbaramente por ideais que não são os seus, como na guerra.
Posicionamentos, ação, que Lima Barreto certamente almejava...
Algumas das coisas que o livro instiga, mas não se resumindo nelas...