clara 19/03/2023
Esaú e jacó
Um clássico do nosso querido - e também clássico- machado de assis. esaú e jacó é uma das últimas obras do nosso autor que conta a história de dois irmãos gêmeos que brigavam desde o útero, como os personagens bíblicos esaú e jacó, narrado pelo mick riva brasileiro vulgo conselheiro aires. o livro conta a trajetória dos irmãos que é cercada de brigas e disputas, principalmente no campo político, mas que por ironia do destino se assemelham no campo do amor, no qual se apaixonam ao mesmo tempo pela minha querida flora, e assim a história se extende até o final. eu gostei do livro, apesar de não ser um dos melhores que eu já li do nosso autor, mas achei interessante o modo como o machado retratou o amor de flora pelos gêmeos. existem pessoas com coragem o suficiente para chamar a flora de indecisa, mas sinceramente, quem não ficaria? a própria flora dizia que um completava a presença do outro e que era incapaz de escolher, acabando por amar uma versão dos dois que não existia. também achei interessante o fato do machado querer demonstrar que mesmo com a morte da mãe, os gêmeos ainda brigavam, apesar das diversas promessas, mostrando que apesar de qualquer coisa, no final, acabariam como esaú e jacó.
?O amor, que é a primeira das artes da paz, pode-se dizer que é um duelo, não de morte, mas de vida.?
"Alonguei-me fugindo, e morei entre a gente".
?Inexplicável é o nome que podemos dar aos artistas que pintam sem acabar de pintar. Botam tinta, mais tinta, outra tinta, muita tinta, pouca tinta, nova tinta, e nunca lhes parece que a árvore é árvore, nem a choupana choupana. Se se trata então de gente, adeus. Por mais que os olhos da figura falem, sempre esses pintores cuidam que eles não dizem nada. E retocam com tanta paciência, que alguns morrem entre dois olhos, outros matam-se de desespero.?
?O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio.?
?Umas coisas nascem de outras, enroscam-se, desatam-se, confundem-se, perdem-se, e o tempo vai andando sem se perder a si.?
?Como é que se matam saudades não é coisa que se explique de um modo claro. Ele não há ferro nem fogo, corda nem veneno, e todavia as saudades expiram, para a ressurreição.?
?A morte é um fenômeno igual à vida; talvez os mortos vivam.?
?A música tinha para ela a vantagem de não ser presente, passado ou futuro; era uma coisa fora do tempo e do espaço, uma idealidade pura.?
?Pensou enganar-se, mas não; era uma só pessoa, feita das duas e de si mesma, que sentia bater nela o coração.?
?Melhor é que os deixes de vez. Não será difícil a ação, porque a lembrança de um acabará por destruir a de outro, e ambas se irão perder com o vento, que arrasta as folhas velhas e novas, além das partículas de coisas, tão leves e pequenas, que escapam ao olho humano. Anda, esquece-os; se os não podes esquecer, faze por não os ver mais; o tempo e a distância farão o resto".
?Flora acabou como uma dessas tardes rápidas, não tanto que não façam ir doendo as saudades do dia; acabou tão serenamente que a expressão do rosto, quando lhe fecharam os olhos, era menos de defunta que de escultura.?
?Foi um segredo guardado no silêncio e no desejo sincero de comemorar uma criatura que os ligara, morrendo.?