fyveer 10/02/2020
El-ahrairah, the Prince of Thousands Enemies.
? Meu coração se uniu aos Mil, pois meu amigo parou de correr hoje.
Richard Adams é um daqueles gênios incomuns que aparecem de uma outra para a outra na literatura, sem nenhuma pretensão de fazer sucesso quando publica um livro sobre coelhos de uma forma nada infantilizada; por isso, e também por alguns outros motivos, o considero uma das peças lapidadas dentro da literatura universal.
Dizem que as melhores histórias são a priori recusadas, seja por infortúnio do destino ou por agentes literários sem visão, mas quando Adams recebeu sua sétima negativa em publicação ficou muito mais claro que tudo o que lhe restava era perseverar com seu trabalho.
"É só uma história sobre coelhos inventada e contada no carro para minhas filhas."
Watership Down não tinha nenhuma malícia em se tornar um grande fenômeno, era apenas um livrinho em brochura feito para agradar um público específico: suas filhas.
Eu, particularmente, sou muito coração mole para esses tipos de livros, acabo procurando por um simbolismo ou outro da vida do autores em meio a narrativa, no caso de Adams creio que ele se transformou no bondoso Dr. Adams e uma de suas filhas na inteligente pequena Lucy.
Além disso, logo na introdução, Richard Adams explica que muitos dos personagens icônicos são baseados em algumas pessoas que passaram por sua vida, além disso, creio que é uma das melhores características que um autor novato pode implementar em suas obras: detalhes pessoais.
"O Topete foi baseado em outro oficial que conheci, um grande combatente, que dava o seu melhor quando alguém lhe dizia exatamente o tinha de fazer."
Quando se escreve ficção, geralmente fantasia, muitos autores encaram vários aspectos desse universo, a linguagem é um deles. Autores como J.K. Rowling e G.R.R. Martin trabalham com isso, vemos algumas variações da língua inglesa e novas palavras na Saga Harry Potter, assim como linguagens diversas nos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo. Richard Adams fez o mesmo, sentiu necessidade de entreter as crianças por meio do Lapino, a linguagem dos coelhos, além disso tem a Linguagem Comum dos Campos, uma sequência de frases com pouca flexão utilizada por diverentes animais para se comunicar.
Minhas palavras favoritas em Lapino ao longo da história se tornaram Frith e fu-Inlé, além disso tem Hlao-roo, que é o nome de um dos coelhos em diminutivo. Vemos muito a linguagem dos coelhos nos contos acerca do Príncipe de Mil Inimigos (El-ahrairah), um herói para os coelhos e fonte de profunda admiração.
"O que Robin Hood é para os ingleses e John Henry é para os negros americanos, Elil-Hrair-Rah, ou El-ahrairah 'O Príncipe com Mil Inimigos' é para os coelhos."
A história se arrasta em alguns momentos, principalmente quando os personagens debatem sobre o que fazer naquele momento, mesmo que seja repleta de aventuras eu me senti cansada de ler em alguns pontos. No entanto, essa crítica de nada vale quando em comparação ao livro, eu apenas estava em um mal momento para lê-lo.
Acho que a forma mais justa de finalizar essa resenha é apresentando uma frase que definiu muito bem o comportamento dos protagonistas ao longo da narrativa.
"Os animais não se comportam como os humanos, ele disse. "Se têm de lutar, lutam. Se têm de matar, matam. Mas não ficam sentados botando a inteligência para funcionar para bolar modos de prejudicar a vida das outras criaturas e de machucá-las sem motivo nenhum. Eles têm dignidade e animalidade"