Vitor Hugo 01/09/2023
SOCIALISMO OU STALINISMO?
Iosef Vissarionovich Djugashvili, mas pode chamar de Stalin, o “Homem de Aço”.
A incrível história do humilde georgiano que ascendeu para comandar um dos maiores impérios do planeta, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Ponto importante: esta biografia é da lavra do general do Exército Soviético DMITRI VOLKOGONOV e foi iniciada e terminada quando a rubra bandeira com a foice e o martelo ainda tremulava sobre o Kremlin. Aliás, o autor deixa claro que ainda acreditava em um socialismo multifacetado, democrático e humanitário. Contudo, como logo se viu, o final não tardava para a URSS.
A autoria da biografia é importante, tendo em vista se tratar de um russo e militar soviético, que, por isso, teve acesso a documentos até então inacessíveis, muitos deles do próprio Partido Comunista.
Se é fato que, de modo geral, Stalin já havia sido “desmascarado” pelo discurso de Khruschev por ocasião do XX Congresso do PCUS em 1956, muito ainda havia a ser dito. E esta biografia diz.
Acompanhamos, então, o Camarada Stalin desde seus primeiros anos. Fruto de uma família humilde (o pai era sapateiro), o futuro tirano teve uma infância difícil e uma juventude dedicada a malfadados anos como seminarista (foi expulso do seminário), e, após, como aspirante a revolucionário, amargando anos de prisões e exílios internos nos confins da Rússia. Tudo isso moldou uma personalidade fria e circunspecta e uma consciência impermeável a sentimentos humanitários.
Stalin conheceu Lenin em 1902 e foi um bolchevique desde a primeira hora. Contudo, seu papel na Revolução de Outubro de 1917 e na Guerra Civil que se seguiu foi secundário, não se igualando jamais a Lenin e Trotsky (ele “reescreveria” a história mais tarde, de modo a se tornar protagonista de primeira ordem).
O fato é que com a morte de Lenin em 1924, Stalin foi ascendendo discretamente no Partido, destacando-se como bom executor de missões difíceis, mas não como grande pensador.
Daí que ele tenha passado a ocupar o então criado posto de secretário-geral do Partido, uma função originalmente apenas administrativa, mas que acabaria por alçá-lo ao topo do poder, já que o cargo passou a ser o lugar do homem mais poderoso da URSS.
Stalin foi se livrando dos adversários um a um, notadamente Trotsky a quem odiava (o ódio era mútuo). Trotsky foi expulso do Partido, e, após, da URSS, até ser assassinado no México em 1940, ocasião em que ainda bradava contra os desmandos do “grande timoneiro”.
Após o grande expurgo de 1937/1939 não havia mais limites para Stalin. Foi a época de prisões em massa, julgamentos forjados e condenações a prisão, trabalhos forçados e fuzilamento, inclusive de figuras de proa do Partido e que haviam sido próximas a Stalin.
Mas a aura do tirano continuava brilhando aos olhos do povo. E isso seria aumentado em mil vezes após a Segunda Guerra Mundial (Grande Guerra Patriótica, para os soviéticos).
Foi uma época precedida do constrangedor Pacto de Não Agressão com a Alemanha nazista. Pacto que todos sabiam que seria rompido por Hitler. A questão era quando. A URSS correu para se preparar militarmente. Mas o começo da guerra foi catastrófico para a nação. No fim, como sabemos, a bandeira soviética tremulou sobre o Reichstag, em Berlim.
Stalin, então, “partilhou” o mundo com Roosevelt e Churchill. Mas já em março de 1946 Churchill discursaria em Fulton, Missouri, usando o termo “Cortina de Ferro”, dando início, pode-se dizer, à Guerra Fria.
Stalin continuou soberano na URSS, exercendo influência também sobre os demais países do bloco socialista.
Até que no dia 5 de março de 1953 faleceu, vítima de um derrame cerebral, aos 73 ou 74 anos de idade (há divergências sobre sua data de nascimento).
Como dito, morreu como o líder infalível, causando comoção total.
E esta foi, como consta do subtítulo do livro, a história do “triunfo do líder e da tragédia do povo”.
O que a URSS viveu (mesmo após a morte do tirano) foi o stalinismo, um regime marcado pela deformação dos princípios democráticos, pela alienação da classe trabalhadora do poder e pela instalação de uma burocracia dogmática, com sufocamento dos reais valores socialistas. Enfim, como disse Victor Serge, citado na obra, “no estado stalinista o homem não vale coisa alguma”.