Ana 19/04/2018
Gil Vicente foi um homem de seu tempo, misturando em suas peças, o sagrado e o profano.
Suas peças são bastante sagazes, e fazem muito sucesso até hoje. Eu só o conheci na verdade, por conta de Auto da Barca do Inferno que TIVE que ler para o vestibular, que remédio...
Não sei o motivo, mas o teatro dele me lembra muito as histórias do Ariano Suassuna, acho que Gil deve ter sido inspiração para ele.
Em farsa de Inês Pereira, temos Inês, uma jovem cuja única esperança para sair da vida monótona e modorrenta que leva com a mãe, é o casamento. Em Auto da barca do Inferno, muito conhecida, é uma peça que retrata os conflitos de religiosos que levam uma vida profana, como a de homens comuns. Quando os doze personagens de Auto da Barca do Inferno morrem, vão parar num rio. Neste rio há duas barcas: A barca do inferno, comandada pelo diabo e um companheiro, e a barca da Glória, comandada por um anjo.
Ao chegar, os personagens vêem primeiro a barca do inferno. Sem saber o que é, perguntam ao diabo. Este conta rapidamente às pessoas que a barca os levará ao inferno, e insiste para que entrem. Todos resistem, claro. Quem quer ir pro inferno, afinal? Ninguém, nem os que merecem.
Em Auto da Alma, há um conflito de uma alma que deve voltar à sua unidade divina, mas acaba encontrando no caminho coisas que divergem deste propósitos. O Diabo tenta a todo custo atraí-la com as riquezas e delícias terrenas, enquanto o anjo busca fazê-la resistir às tentações do Diabo.
Em Pranto de Maria Parda, eu percebi um tema muito polêmico para a época, o alcoolismo.
Maria Parda é uma grande apreciadora de bons vinhos, e pertence às classes mais baixas de Portugal. A mulher começa o monólogo falando da dificuldade que encontrava para consumir a bebida por ela tão amada, no momento em que começa a história. Maria se queixa que já foi mais fácil arrumar vinho em Lisboa e relembra com saudade as tavernas em que já esteve e com quem se embebedou. Viciada, pede fiado aos taberneiros da região, mas todos se negam a lhe vender fiado. Enfim, as peças e o monólogo são muito bons, retratando a sociedade da época de Gil Vicente (séculos 15 e 16).