gabriellelivros 18/11/2024
Esperava mais :(
“O Silêncio das Águas” faz parte de uma trilogia com “O ar que ele respira” e “A chama dentro de nós”. Particularmente, não li os outros livros, mas sei que podem ser lidos sem seguir uma sequência. A história é dividida em três partes: infância, adolescência e vida adulta.
A história trata sobre temas muito difíceis, como traumas na infância e invisibilidade social. A obra apresenta uma garotinha, Maggie, que aos 10 anos passou por um trauma terrível que a fez perder a voz e ficar reclusa dentro de casa até os 28 anos. Brooks, seu melhor amigo e futuro companheiro, procura entender como conviver com uma pessoa diferente e respeitando o seu espaço. Além disso, temos a família da Maggie, a qual alguns membros tentam apoiá-la nesse período difícil e outros não conseguem lidar com essa questão.
Um dos pontos positivos que dou a leitura é que o leitor também é posto a prova, isto é, você também “convive” com a Maggie e isso o força a ter empatia pela condição dela. Por essa razão, você entende que não é tão simples assim tratar um trauma e que leva mais tempo que imagina. No entanto, o livro recebe duas estrelas por não haver aprofundamento em nenhuma das relações, exceto com o desenvolvimento da madrasta (também chamada de mãe pela Maggie).
O melhor desenvolvimento da autora é sobre a invisibilidade social, pois apresenta a Katie, madrasta da Maggie, que não consegue assimilar o porquê da filha não conseguir superar o trauma depois de tantos anos. Ademais, Katie possui amigas que não enxergam a Maggie como uma pessoa digna de estudar, ter um namorado e fazer amigos. Esse comportamento influencia Katie a ponto de, em dado momento, ela mesmo não querer que Maggie supere seus demônios. Por consequência, Katie passa a querer isolar Maggie com o pretexto de proteger a filha do mundo cruel e intolerante, mas, ao mesmo tempo, instaura na mente da Maggie que ela não pode "prejudicar" a vida dos outros devido à sua mudez. Em suma, estabelece-se esse balanço de pretextos que, mais adiante, veremos que acaba com a saúde da Katie, porque, ao mesmo tempo que ela quer o bem da enteada, ela também não quer ser julgada pela sociedade por ter uma filha atípica. Essa história ilustra uma realidade atual em que pessoas com quadros traumáticos sérios ou com algum tipo de deficiência ainda são invisíveis perante o corpo social.
Por fim, a minha crítica é sobre as outras relações que não foram bem desenvolvidas: o laço de parentesco entre irmãs e o romance. Cheryl, irmã de Maggie, também não consegue "aceitar" a condição da irmã. Porém, ao contrário da mãe que opta por esconder a filha e fingir que ela não existe, Cheryl deixa bem claro que a odeia e não mede esforços para humilhá-la. A relação entre Maggie e a irmã terá uma trégua em determinado momento da história. Porém, isso acontece muito rápido. Isto é, Cheryl passou anos tendo esse comportamento lamentável e, no momento que a mesma pede desculpa a Maggie, no capítulo seguinte já temos as duas sendo melhores amigas que falam sobre sexo. Desde o início do livro a mensagem que Maggie recebe da Katie é “Nunca abandone a sua família”, mas claramente a autora desejou mostrar que a família foi arruinada de certa forma com o passar dos anos. Entretanto, quando se tratou da Cheryl, essa falha na relação das duas irmãs foi facilmente resolvida (ao contrário da mãe, que foi bem mais desenvolvida). Basicamente, algo que foi construído em capítulos foi resolvido em apenas um.
De maneira semelhante, aconteceu com o romance entre Brooks e Maggie. Nesse caso, temos um romance bem água com açúcar. Eu confesso que é uma decepção puramente minha, pois se tratando dessa autora imaginei que ela fosse detalhar passo a passo da relação dos dois, como foi feito em outras obras dela. Prosseguindo, o livro tem parágrafos indicando que o Brooks, por exemplo, presenciou as crises de pânico da Maggie, mas não há um momento em que mostra como eram esses momentos e como ele, inicialmente, não sabia lidar até o momento em que ele aprendeu (criando a regra dos 5 minutos, que vira uma “marca” registrada do casal), veja que não houve um cuidado com essa informação. Outro exemplo é em questão da passagem do tempo que eles se relacionam, que é basicamente resumida em “passaram-se semanas que estávamos juntos”. Além disso, não há registros de momentos em que eles fazem algo que acrescente no romance, exceto pela repetição infinita das cenas que eles deitam na cama e escutam música juntos. Também há a troca de bilhetes na vida adulta, essa parte é um pouco mais interessante, apesar de também parecer um super resumo do tempo decorrido.
Portanto, é um livro razoável. Possui alguns defeitos, mas tem temáticas muito interessantes. Além disso, a personagem da Maggie é muito legal para nós leitores: ela faz faculdade de letras, quer ser bibliotecária, adora viver através dos livros e faz muitas referências à literatura contemporânea. Infelizmente, não senti nenhuma conexão super profunda entre o casal, mas sei que muita gente gostou deles.