Quedali 09/06/2018
Só Mais um Esforço
Safatle faz um resumido, porém instigante, diagnóstico da política brasileira dos últimos quatro mandatos presidencias. Ele toca em diversos aspectos que levaram a queda da primeira longa experiência da esquerda no Brasil. Ele associa o fim inglório de Dilma e Lula à tentativa feita de montar (em moldes varguistas) uma ampla coalizão política e social, que abrigaria interesses contraditórios e mesmo antagônicos dentro da máquina pública. Em tempos de crescimento econômico, este tipo de condomínio político tem chances de funcionar, mas em épocas de crise, vem abaixo, impulsionado, sobretudo, pela ala mais oligárquica/conservadora da aliança.
A lição que ele adianta logo no início de seu texto é a de que, para fazer a agenda social e econômica avançar, a esquerda tem que romper com a velha tradição da política brasileira de buscar a conciliação de interesses antagonicos em arranjos de viés populista como o construído por Vargas em 1930. A conciliação não é mais possível. O país chegou, há tempos, a uma situação em que as alternativas são claramente antagônicas entre alguns setores sociais. Não é possível manter ambientalista e agronegócio, setor financeiro e proletariados no mesmo governo. Segundo o autor, à direita, no primeiro momento de crise pós-pacto, denunciou o arranjo e buscou demolí-lo.
O senão que faço a obra, embora devamos reconhecer que ela é resumida, é que as proposta ficaram a dever. São ainda por demais utópicas e desqualificam a necessidade de consensos mínimos para a convivência política. Contudo, reconheço que este é um problema de minha leitura e não do autor, pois ele busca radicalizar a analise em busca de aprofundar seu diagnóstico da situação. Consensos mínimos não são necessários e, talvez, nem desejados.