Nicolly RS 08/07/2023"A morte é a mãe da beleza""E o que é a beleza?"
"Terror."
Que leitura espetacular! Não tem outra maneira de descrever esse livro que foi o precursor do dark academia. Fazia anos que eu ouvia comentários sobre ele ? sempre de pessoas que amaram ou odiaram, sem a possibilidade de um meio termo. Confesso que sempre me senti intimidada pela grandiosidade deste que já podemos considerar um clássico (e até um certo receio de não gostar e acabar com a magia dele haha). Foi através do clube de leitura Sociedade Secreta, promovido pela Louie, que finalmente criei coragem de embarcar nesta história.
Eu consigo entender agora porque esse livro divide tanto as opiniões: a história é densa e a Donna tem uma escrita lenta, com um ritmo próprio. Começamos acompanhando Richard, um jovem desmotivado e insatisfeito com a própria vida, ao conseguir uma transferência para Hampden College, em Vermont, onde ele tem a possibilidade de começar do zero, e ser quem quiser. Lá ele descobre que um professor de grego antigo oferece um curso para um grupo seleto voltado para o estudo dos clássicos, e fica fascinado com seu pequeno e isolado grupo de estudantes.
"Seus alunos eram impressionantes, e por mais diferentes que fossem compartilhavam todos uma certa serenidade. Um charme cruel e civilizado em nada moderno, marcado pelo sopro frio da Antiguidade (...). Eu os invejava, e me atraíam; seu jeito estranho, londe de ser natural, revelava-se em tudo intensamente cultivado."
Revelando-se o típico outsider, Richard faz de tudo para se encaixar no novo grupo ? desde mentir sobre suas origens até compactuar com o que fosse necessário, mesmo sob um custo alto. As cenas das aulas de Julian foram de longe as minhas preferidas, e de onde saíram boa parte das marcações que fiz. O professor criou um grupo tão isolado e obcecado com a ideia de viver imerso nos clássicos e ideais antigos, que os alunos aos poucos foram perdendo a noção de realidade. Eles viam Julian como um grande mestre que não pode ser contestado ? principalmente Henry ? e mesmo ideias absurdas eram aceitas com tranquilidade naquele espaço. A situação chega num ápice quando eles tentam reproduzir um bacanal no estilo dos antigos gregos, com o objetivo de sair de si e transcender a própria existência. A partir daí, tudo começa a dar monumentalmente errado e eles precisam lidar com a consequência de suas escolhas questionáveis.
Richard quer TANTO se sentir parte desse estilo de vida idealizado que eles aparentam ter, que se envolve muito mais do que o necessário, sem pesar as consequências disso. Ele sempre se sentiu só e incompreendido, e acredita que finalmente achou o seu lugar e a vida dos sonhos que desejava.
"Em certo sentido, era por isso que eu me sentia tão próximo dos outros no curso de grego. Eles também conheciam esta paisagem deslumbrante e aflitiva, morta havia séculos; eles compartilhavam a experiência de erguer a vista dos livros, com olhos do século V, encontrar um mundo desconcertante em sua indolência e isolamento, como se não fosse aqui o seu lar."
Eles estão todos tão perdidos nessa realidade fantasiosa que mesmo ao planejar o assassinato de Bunny, ainda vêem toda a situação com uma estética própria e de certa forma agradável. Depois de cometerem o ato em si, aos poucos eles começam a perder a sanidade e sofrer com as consequências da frieza do que fizeram. O que inicialmente serviu para uni-los, começa subitamente a afastá-los cada vez mais, como se o distanciamento pudesse tornar a verdade e o horror menos tangíveis. Mas eles cruzaram uma linha sem volta, e isso vai assombrá-los pelo resto de suas existências.