giovana791 15/10/2023
?falha fatal?
?E, se amor for algo que se possa compartilhar, suponho que tivemos isso em comum.?
Esse livro é impressionante.
No começo, junto com Richard, o leitor é levado a acreditar que eles (Henry, Camilla, Charles, Francis e até mesmo, o Bunny) são grandes intelectuais. Você se pega apaixonado pela estética do grupo, quer se tornar como um deles.
Conforme o livro se desenrola, mesmo com a narração de Richard que faz questão de romantizar cada ato de seus colegas, é perceptível o quão fúteis, iludidos e pretensiosos todos eles são.
A narração do Richard é extremamente ?não confiável?. O narrador, desde o início tem o desejo de ser alguém quem ele não é, ter coisas que ele não pode ter. Por isso, trata os membros do grupo de grego como deuses, divindades.
Outro ponto, é que Richard confirma várias vezes como é ótimo em mentir, e está acostumado a se portar como alguém que não é. Antes da morte de Bunny realmente acontecer, quando tudo começava a desmoronar no mundinho deles, Richard repetidas vezes fazia questão de pontuar as coisas ruins que Bunny havia fazendo nos últimos tempos. Acredito que isso tenha sido uma mera ?justificativa? o que estava vir, por parte do narrador. Bunny começou a ser tratado como um monstro, alguém totalmente irracional e errado.
Bunny não era uma pessoa boa, mas afinal, algum deles era? Como reagiria ao saber que seus amigos mataram uma pessoa? Talvez ele não se importasse (acho bem provável), mas somos levados a acreditar pela narração imparcial de Richard, de que o assassinato de Bunny era a única opção que eles tinham.
?Só pra constar, não me considero uma pessoa ruim.?
Richard passa páginas e páginas, tentando justificar o injustificável. Se passa como vítima, alguém levado a fazer algo que não concordava, mas simplesmente o fez porquê estava ali. Como um mero espectador ? mesmo ele tendo admitido que, levou Bunny até a sua morte, acreditando ser completamente influenciado por Henry.
Acho que o segundo ato do livro mostra o que o grupo realmente sempre foi, jovens traumatizados e elitistas. Totalmente desconectados do mundo (por conta própria) e com essa vontade de viver pela beleza, pela estética da coisa. Até Julian, que se acreditava ser como um ?deus? para seus alunos se mostrou, no final, apenas um cara com medo e indiferente de todos eles. Foi embora assim que soube do caso, não quis se envolver.
Tudo nesse livro é dramático e romantizado, de um jeito até um pouco irônico . Vi algumas pessoas falando também sobre os personagens secundários, como Judy, e que representavam a vida que Richard poderia ter tido se não fosse tão atraído pela estética e pelo mistério dos outros cinco. Achei a análise interessante, porquê apesar de nenhum dos personagens secundários serem boas pessoas, estão longe de ser tão fúteis como os outros cinco.
Sobre a escrita da Donna Tartt não tem o que dizer. Impecável do começo ao fim, entendo que, talvez esse livro não seja para todos os públicos. Muito poético, e afinal, é a historia sobre um grupo de alunos extremante pretensiosos. E apesar dos pesares, você acaba gostando dos personagens (mesmo eles sendo pessoas horríveis).
Discordo sobre o livro sem ?arrastado?, mas acredito que isso vá de pessoa pra pessoa. Gosto de escritas assim ??
?O que chamamos de belo provoca arrepios. E o que poderia ser mais aterrorizante e belo, para mentes como a dos gregos e a nossa, do que a perda total do controle??