Isa 29/04/2023
ELE FEZ O QUE????
Ah, o ensino superior. seduz com seu aparente glamour e hedonismo, a promessa de conhecimento pra saciar aquela arrogânciazinha do fundo da nossa mente. inevitavelmente acaba em tragédia.
diferente das nossas tragédias universitárias usuais ( um trabalho em grupo cansativo, noites em claro estudando para uma prova) o protagonista desse livro consegue se envolver em um ASSASSINATO. agora você pode se sentir um pouco melhor consigo mesmo, pelo menos você não é esse otario.
Richard Papen: pobre coitado (literalmente falando), definitivamente MUITO hétero( eu juro) ansioso por uma vida maior que sua cidadezinha da califórnia. e lá vai ele para Hampden College, em Vermont, onde ele se mete com uma turminha da pesada que vai aprontar altas aventuras.
Henry, o líder, figura misteriosa, sempre com uma carta na manga, prodígio do Grego e especialista em chatices. Bunny, a personificação do ?se ele for na festa eu não vou?, simpático quando você conhece, ainda mais simpático quando você não conhece, rip. Francis, gay e melhor do que você, provavelmente tem o pulmão preto de tanto fumar. Charles e Camila, o primeiro um semi pseudo quase alcoólatra que é tão mas tão legal que o santo desconfia, e a segunda que eu só consegui definir como mulher, porque ela é muito mulher. tipo mulher ao quadrado. mulher à quinta potência. eles são irmãos bastante próximos, do jeito aristocrata mesmo.
essa gangue é arrogante e irritante e cansativa e inquietante. eles são aquele furacão estranhamente convidativo vindo direto na sua direção, mas se o furacão viesse acompanhado de música clássica. juntos eles estudam grego antigo ( de uma maneira relativamente vaga, vamos combinar) sob a tutela de Julian, o tipo de professor que qualquer pessoa de humanas com um ego um pouquinho acima da média amaria ter.
esse livro é sobre um crime, mas ao mesmo tempo não é. é uma análise observadora e incrivelmente subjetiva dessas pessoas incomuns e geniais, dos seus lados resplandecentes e dos seus lados obscuros. tal qual nas tragédias gregas, os acontecimentos movem como que controlados por um fio invisível do destino, conferindo misticismo e até certa poesia ao que é dito e feito pelos personagens. taí um dos perigos de voar perto demais dos gregos antigos com asas de cera.
essa obra prova que é sim possível escrever algo envolvente sem sacrificar a qualidade da escrita, e acredito que podemos todos aprender um pouquinho com isso.
tendo dito isso, trago críticas, porque nasci hater e hater morrerei. o uso de ?slurs? (em inglês, insultos específicos direcionados a grupos minoritários) foi algo consistentemente desconexo durante a obra, a ponto de eu questionar sua necessidade muitas vezes. é uma questão polêmica, e eu entendo o apelo à verossimilhança, mas não posso deixar de me perguntar se a escrita não poderia ter ocorrido de uma maneira mais bem-feita, menos jogada. tenho também problemas com o ritmo do livro em partes específicas, e o vai e vem pra dormitório merecia uma editadazinha, especialmente nas primeiras 200 páginas.
acredito que este seja um livro com bastante valor, ainda que conte com seus tropeços, especialmente pra quem gosta de destrinchar bem personagens com uma moralidade duvidosa. de resto, quando forem matar um colega de classe, estejam dispostos a arcar com as consequências?sejam elas quais forem.