spoiler visualizarIsadora.Zardo 05/03/2024
Bom, tenho que começar dizendo que, com toda certeza, vou ter que reler esse livro. Depois da morte do Bunny tudo ficou meio confuso para mim, as palavras não entravam mais no meu cérebro, a ambientação que estava sentindo tão fortemente foi sumindo aos poucos. Mas vamos começar do início.
Engraçado como o ponto principal de todo o livro foi a morte do Bunny, o antes o depois de sua morte, e para mim foi a mesma coisa, consigo dividir o livro em exatas duas partes. Antes e depois da morte do Bunny, uma parte que estava amando a leitura e a outra que tudo foi por ladeira abaixo.
A primeira parte, em minha opinião, foi impecável. A ambientação é enigmática, apesar de você saber exatamente o que acontece no ápice do livro, os personagens são instigantes e profundos, existem ótimos diálogos e frases. Estava, até o momento, entendendo o motivo do livro ser tão aclamado. Ao lê-lo, você passa a sentir culto, todas as citações a clássicos e discussões sobre conceitos gregos e romanos, até senti uma impressionante vontade de ler Homero (sendo que absolutamente nunca apresentei tal sentimento), o livro passa um forte ar de erudito e leva o leitor e sentir-se assim. Então, para mim, grande parte da minha adoração pela primeira parte do livro, foi totalmente baseada nisso, você ao perceber que está lendo um livro inteligente e com citações e discussão perspicazes, sente-se extremante inteligente. Uma das principais falhas foi o livro não ter se aprofundado mais no personagem do Julian e em suas análises, já que foi algo que me chamou tanta atenção. Falando dos personagens, tive uma sensação muito estranha de que eu os conhecia, de certa forma, profundamente, mas sem saber absolutamente nada sobre eles. Não compreendi bem o Richard, apesar de ser o narrador, peguei alguns nuances da sua personalidade, como o fato de ele claramente ser um viciado em mentir, mas de resto não compreendi muita coisa, é um personagem externamente ambíguo em todos os momentos e em todas suas opiniões, ele odiava e amava o Bunny, entendia o motivo de terem matado-o, mas mesmo assim repudiava a ação, não consigo nem dizer se o amei-o o odiei. Sua paixonite pela Camila aparece do nada e não faz nenhum sentido, já que a personagem é tão apagada e sem uma personalidade grandiosa comparada aos outros personagens. O que me leva a outro ponto, Henry e Camila? Que casal é esse? Não faz o menor sentido. Para mim, Henry era incapaz de amar um ser humano (tirando o Julian, que para mim era mais para uma idolatria), e do nada, para o fim do livro, os dois estão apaixonados um pelo outro. Espero não ter pulado páginas e esquecido de ler algum capítulo que explicasse esse relacionamento. Outra coisa que vem a minha mente, Dona Tartt joga o fato de Charles e Camila terem relações incestuosas, e simplesmente não se aprofunda no fato? Como assim eles mantinham relações, quando começou, porque começaram? E sim, estou levando em conta que na Grécia antiga incesto era normal, não estou julgando o fato da autora ter colocado isso no livro, e sim, o fato de não ter se aprofundado o suficiente. Henry e Francis são os melhores personagens, e confesso ter desenvolvido um certo crush no primeiro, mas, mesmo assim não consigo entende-los tanto quanto gostaria. Sinceramente, gostaria de poder me aprofundar mais em minhas opiniões sobre os personagens, mas simplesmente não consigo, talvez seja exatamente isso que a autora desejasse, que não compreendêssemos seus personagens em todos aspectos.
Depois da morte do Bunny, que foi o único personagem que realmente consegui criar um repúdio, o livro se estende por 250 páginas que poderiam ser escritas em 100. É uma enrolação sem fim, nada acontece, a parte da tensão dos personagens com medo de serem descobertos é interessante, já que é no medo que descobrimos quem realmente somos, mas não precisaria se estender tudo que estendeu. Foram páginas e mais páginas sem fim, e assim, o livro foi perdendo sua ambientação e seu ar misterioso, resumindo-se a chato. O único personagem que se salva nessas ultimas 250 páginas é o Henry. Falando nele, o final do livro me surpreendeu e, ao mesmo tempo, não me surpreendeu. Deveria ter imaginado que o Henry, em toda sua fascinação por tragédias faria logo do tipo, é, na minha opinião, o fim perfeito para o personagem. O que me leva à um questionamento: o livro todo Henry foi descrito como uma personagem que consegui visualizar todas as possíveis consequências de uma ação, não é a toa que ele comandou todas as ações do grupo em torno na morte do Bunny, agora penso, a relação de Henry e Camilla (que parecia tão aleatória) teria sido uma forma dele alcançar o fim perfeito? É muito cabível para ele morrer em uma situação que poderia facilmente ter sido tirada de uma tragédia grega.
Como disse, terei que ler esse livro de novo, tenho muitas opiniões, mas nenhuma delas parece ser realmente fundamentada em algo, não consigo passa-las com a clareza que gostaria. Sinto que não compreendi todos os nuances da história e a profundidade dos personagens. É um livro realmente bem escrito, mas que não irá agradar o paladar de todos os leitores.