Daniel 17/04/2020O mistério é o que menos importaUma das primeiras resenhas que escrevi para o SKOOB foi para este livro que adoro, mas infelizmente ela sumiu...Vou tentar recapitular aqui o porquê gosto tanto deste livro.
Narrado brilhantemente em primeira pessoa - como quase todos os meus livros favoritos - logo no prólogo o leitor já sabe quem foi assassinado e quais foram os assassinos. A partir deste fato chocante - um crime premeditado - o narrador, Richard, começa a contar a história do começo, quando ingressou numa seleta turma de Grego Clássico numa Universidade do Norte dos Estados Unidos, a fictícia Hampden, em Vermont .
Na primeira parte do livro somos apresentados ao esnobe "clube dos cinco": Henry Winter, alto e pálido, sério e inteligente, sempre de negro como um corvo; Bunny, voz estridente, meio estúpido e inconveniente; Francis, exótico, cabelo vermelho, meio dandy, ambíguo; e os gêmeos Charles e Camila, louros e luminosos na aparência, mas que também guardam um lado mais negro. Devidamente inclusos neste grupo, vamos acompanhando os fatos que levaram ao crime. A segunda parte do livro já é sobre as consequências do assassinato, incluindo aqui o remorso e o arrependimento.
É impossível desgrudar deste livro. Donna Tartt já neste primeiro trabalho se mostrou uma autora acima da média. O leitor se sente um participante da história, parece que conhece de verdade (ou não! rs) cada personagem e suas peculiaridades. Isso acontece também com os lugares onde a ação se passa, seja no campus da universidade ou na gótica casa de campo da tia de Francis. O ambíguo professor Julian, por exemplo é descrito no começo do livro como algo próximo à uma divindade de sabedoria, mas já para o final do livro, como o tipo de pessoa que lhe oferece uma caixa de bombons só depois de já ter pego os seus favoritos (rs!). E isso sem esquecer de outros personagens secundários, outros universitários que se entopem que álcool e drogas e que só se preocupam com festas e badalações. Lembro de um trecho quando Richard quase morreu de frio durante umas férias de inverno, e quando terminei fiquei com vontade de me enfiar debaixo de um cobertor!
A autora não se aprofunda muito nos estudos gregos, para alívio ou para a decepção dos leitores. Mas a narração traz muitas citações, volta e meia dá vontade de sublinhar algumas frases, como esta: “Beleza é terror. O que chamamos de belo nos faz tremer”. Nós, como Richard, fomos admitidos num grupo seleto. Apenas um segredo é revelado na abertura do livro, e temos certeza de que tantos outros estão guardados. E, igualzinho ao narrador, ficamos cada vez mais envolvidos e com a impressão que a trama vai sofrer uma reviravolta contra ele a qualquer momento.
Trecho: Eu era jovem, a grama verde e o ar agitado pelo som das abelhas e eu acabava de voltar de beira da Morte, para o sol e o ar. Eu me sentia livre, e minha vida, que imaginava perdida, se estendia indescritivelmente preciosa e doce diante de mim.
Recomendo, enfaticamente!
PS: "Dark Academia" ??? Pelamordedeus, este livro foi escrito em 1992! Muito antes dessas modinhas cafonas do tiktok