ANDER CELES 13/03/2022
Mais um livro pra mostrar que a empatia pela dor é seletiva.
Esse livro nos traz, mais uma vez, uma história narrada em meio a Guerra na Síria, esse fenômeno do nosso tempo que já perdura por tantos anos. Porém, um grande adendo: a sinopse do livro não tem nada a ver com a história. A sinopse fala que o menino cruza o país sozinho em busca dos irmãos... Nada a ver. Eu não sei se quem escrever a sinopse leu o livro, kkkk. Não há nenhum momento em que o Adam fica sozinho por muito tempo, então... Sei lá da onde tiraram isso...
Mas enfim. O livro narra a história através de um menino com Asperger, algo bem incomum quando falamos de tragédias de guerra na Síria. O Adam é um personagem bem carismático, bem fácil de gostar e se importar. E de certa forma os outros personagens também são. O problema que vi nesse livro é que ele só é contado pela perspectiva do Adam, com exceção de 3 capítulos, contados pela irmã. Então, como o Adam não tá entendendo direito o que tá acontecendo, a gente, leitor, fica bem no escuro com relação ao background dos acontecimentos. A gente sabe por cima o que aconteceu (e acontece) na Síria, mas alguns fatos da história ficam sem contexto específico.
Falando na irmã, realmente penso que poderiam ter mais capítulos com a narrativa dela. Poderia ser intercalado com o do Adam. Porque a Yasmine é uma personagem muito interessante e ter a visão dela sobre as coisas e sobre o próprio Adam seria bem enriquecedor pra narrativa.
E por fim, impossível ler esse livro nesse tempo em que vivemos, com toda a questão da Ucrânia acontecendo. Pensar que a Síria vive uma realidade como a que vive e as grandes potências parecem não se importar muito, é sempre revoltante. O que acontece na Ucrânia é triste. Pessoas são afetadas. Mas o que falar da Síria, então? Enfim, mais uma reflexão pra fazer a gente ficar um pouco indignado com o sofrimento e empatia seletivos.